Ciência

Gatos já encantavam agricultores da Idade da Pedra, diz estudo

A equipe analisou o DNA de 230 gatos mumificados para resolver o debate sobre quem transformou o felino selvagem no animal de estimação de hoje

Gatos: o estudo revelou que, ao contrário dos cães ou cavalos, os humanos não criavam gatos por sua aparência (Gleb Garanich/Reuters)

Gatos: o estudo revelou que, ao contrário dos cães ou cavalos, os humanos não criavam gatos por sua aparência (Gleb Garanich/Reuters)

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AFP

Publicado em 19 de junho de 2017 às 21h32.

Muito antes do Antigo Egito, os gatos seduziram os agricultores da Idade da Pedra, que deram início à conquista mundial felina dos lares e corações humanos, revelou nesta segunda-feira um estudo de DNA.

O primeiro gato selvagem a viajar para o exterior e antepassado dos gatos domésticos de hoje foi o gato selvagem africano (Felis silvestris lybica) - uma subespécie pequena e listrada do Oriente Médio que colonizou o mundo inteiro, revelou a pesquisa.

O gato selvagem africano provavelmente viajou da região da Anatólia para a Europa de navio cerca de 6.000 anos atrás.

"A conquista mundial do gato começou durante o período Neolítico", escreveram os autores do estudo, publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution.

O Neolítico foi o capítulo final da Idade da Pedra - uma época em que os humanos pré-históricos, até então nômades caçadores-coletores, tentaram pela primeira vez cultivar plantações e construir aldeias permanentes.

Com a agricultura, vieram os ratos, que por sua vez atraíram os gatos.

"Para as sociedades antigas, os gatos de celeiro, os gatos de aldeia e os gatos dos navios forneciam uma proteção essencial contra os parasitas, especialmente as pragas de roedores responsáveis pela perda econômica e doenças", escreveram os pesquisadores.

"Moda" antiga

A equipe analisou o DNA de 230 gatos antigos sepultados e mumificados, em uma tentativa de resolver o debate sobre quem foi responsável por transformar o felino selvagem no animal de estimação que conhecemos hoje.

Muitos acreditam que os egípcios antigos foram os primeiros domadores de gatos - com base na sua reverência pelos felinos, imortalizado em estátuas, pinturas e até carcaças mumificadas -, vários séculos a.C.

Mas outros apontaram que um esqueleto de gato encontrado no túmulo de uma criança no Chipre a partir de 7.500 a.C. é prova de que os ancestrais da região do Crescente Fértil foram precursores nesse sentido.

A investigação do DNA dos felinos mostra que podemos agradecer a ambos.

Os pesquisadores descobriram que o F. s. Lybica "começou a se espalhar em momentos em que os primeiros agricultores começaram a migrar para a Europa" em torno de 4.400 a.C., disse à AFP a coautora Eva-Maria Geigl, do instituto de pesquisa CNRS da França.

"Isso pode ser tomado como indicação de que eles foram translocados por humanos, tanto por navio como por terra", provavelmente seguindo antigas rotas comerciais.

Alguns milhares de anos depois, na época dos faraós, uma variante egípcia do lybica também se espalhou em uma segunda onda para a Europa e além, provocando um certo "modismo", disseram os autores do estudo em um comunicado.

"Esta mania pelos gatos egípcios rapidamente se espalhou pelo mundo grego e romano antigo e até muito mais longe", afirmaram.

Dado que o gato egípcio teria se parecido muito com seu primo da Anatólia, seu sucesso provavelmente foi impulsionado por sua personalidade - "mudanças na sua sociabilidade e mansidão", especulam os pesquisadores.

500 milhões de gatos domésticos

Os gatos selvagens são caçadores solitários e territoriais sem estrutura social hierárquica, o que os torna candidatos aparentemente fracos para a domesticação.

No entanto, atualmente há cerca de 500 milhões de gatos domésticos no mundo - um por cada dúzia de pessoas.

O antepassado F. s. Lybica é uma das cinco subespécies de gato selvagem ainda encontradas na natureza hoje. Ele vive no norte da África e em torno da península arábica.

Ao longo de milênios, os gatos domesticados cruzaram com outras subespécies de gatos selvagens - incluindo o europeu - que encontraram em sua conquista global.

Como resultado, muitos gatos selvagens europeus também têm um pouco de gato doméstico, com origens líbicas, em seu genoma hoje.

O estudo revelou que, ao contrário dos cães ou cavalos, os humanos não criavam gatos por sua aparência - pelo menos não nos primeiros milhares de anos.

Até hoje, os gatos domésticos se parecem muito com seus primos selvagens em termos de construção do corpo, função e comportamento.

Os cães, em comparação, variam muito de acordo com a raça, do Rottweiler ao Chihuahua - nenhum dos quais lembra seus antepassados ​​lobos.

Quando começou, a reprodução seletiva visava principalmente o pelo do gato. A primeira vez que uma coloração malhada entrou no registro genético foi durante a Idade Média, entre os anos 500 e 1300, descobriram os pesquisadores.

O padrão malhado, comum nos gatos domésticos de hoje, não existe nos gatos selvagens, que são todos listrados.

"Só recentemente, durante o século XIX, houve programas de reprodução para obter 'raças sofisticadas', disse Geigl, acrescentando que essas também "não são muito diferentes do gato selvagem".

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