Ciência

Volta da gripe no hemisfério norte deve moldar impacto da covid

Para epidemiologista do Imperial College, é "muito provável" que a gripe sazonal leve uma carga adicional significativa para os sistemas de saúde

Frio e tempo seco pioram sintomas do coronavírus, diz estudo (Alexi Rosenfeld/Getty Images)

Frio e tempo seco pioram sintomas do coronavírus, diz estudo (Alexi Rosenfeld/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 3 de outubro de 2021 às 10h00.

Traçar o curso da pandemia do coronavírus durante os próximos meses no hemisfério norte pode envolver um visitante incômodo mais comum no inverno: a gripe.

Com a suspensão de restrições em países como Itália e Canadá, retomada de viagens e temperaturas mais baixas, a gripe provavelmente também começará a circular.

Medidas para frear a covid-19, como máscaras e ventilação, mantiveram a gripe sob controle durante o último ano e meio. Esforços já estão em andamento para diminuir a possível pressão sobre sistemas de saúde que tratam ambas as doenças.

Um estudo do Reino Unido divulgado na quinta-feira mostrou que é seguro tomar vacinas contra a covid e contra a gripe ao mesmo tempo, o que pode ajudar a aumentar as taxas de imunização e reduzir as consultas enquanto o país aplica doses de reforço.

“Esta é uma preocupação real para autoridades”, disse Neil Ferguson, epidemiologista do Imperial College cujos modelos são usados pelo governo do Reino Unido.“É muito provável que continuemos a ver a circulação de níveis razoavelmente altos de covid durante o inverno e, com a gripe sazonal, isso pode representar uma carga adicional significativa para os sistemas de saúde”, disse em conferência em Paris.

Ferguson e outros presentes na reunião disseram que, com a vacinação em países ricos, as mortes por coronavírus não devem aumentar muito, mas a diminuição da proteção das vacinas e outros fatores ainda podem levar muitas pessoas aos hospitais.

Ao mesmo tempo, a imunidade contra a gripe também pode ter diminuído entre a população em geral após dois invernos com poucos casos, de acordo com Arnaud Fontanet, epidemiologista que assessora o governo francês.

O Reino Unido começou a oferecer doses de reforço para pessoas com 50 anos ou mais e outros grupos vulneráveis no mês passado. Aplicar vacinas contra a gripe na mesma consulta seria mais conveniente para pacientes e serviços de saúde, disse Rajeka Lazarus, consultora em doenças infecciosas e microbiologia e investigadora-chefe do relatório do Reino Unido divulgado na quinta-feira.

O estudo - envolvendo pesquisadores da Universidade de Bristol, Hospitais Universitários de Bristol e Weston NHS Foundation Trust - mostrou que os efeitos colaterais de tomar as vacinas ao mesmo tempo foram leves a moderados, sem impacto negativo na resposta imunológica de ambos os imunizantes.

A pesquisa envolveu 679 voluntários adultos em centros do Serviço Nacional de Saúde na Inglaterra e País de Gales que deveriam receber a segunda dose de vacinas da Pfizer-BioNTech ou AstraZeneca.

Foram divididos aleatoriamente em dois grupos para receber diferentes combinações de imunizantes ou um placebo ao longo de duas visitas entre abril e junho. Os resultados ainda não foram revisados por pares.

  • Como a vida pós-vacina vai mudar a sua vida profissional? Assine a EXAME e entenda.
Acompanhe tudo sobre:CoronavírusGripesvacina contra coronavírus

Mais de Ciência

Pesquisadores britânicos descobrem novo grupo sanguíneo

Há quase 50 anos no espaço e a 15 bilhões de milhas da Terra, Voyager 1 enfrenta desafios

Projeção aponta aumento significativo de mortes por resistência a antibióticos até 2050

Novo vírus transmitido por carrapato atinge cérebro, diz revista científica