Ciência

"Frango de laboratório": empresa americana produz carne sem matar uma ave

A aprovação de Singapura de células de frango cultivadas em biorreatores é vista como um marco na indústria

Frango: empresa americana criou uma maneira de produzir carne de frango em laboratório (4kodiak/Getty Images)

Frango: empresa americana criou uma maneira de produzir carne de frango em laboratório (4kodiak/Getty Images)

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André Martins

Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 13h30.

Última atualização em 14 de dezembro de 2020 às 18h01.

O futuro da produção de carne sem abate animal parece estar próximo. Uma carne produzida em biorreatores sem abate de um animal, foi aprovada para venda por autoridades reguladoras de um país pela primeira vez.

As chicken bites(ou “iscas de frango”), fabricadas pela empresa norte-americana Eat Just, passaram por avaliação de segurança da Agência de Alimentos de Singapura e foram aprovadas. A empresa espera que a aprovação abra uma porta para um futuro em que toda carne seja produzida sem precisar matar o gado.

“Acho que a aprovação é um dos marcos mais significativos na indústria de alimentos nas últimas décadas. É uma porta aberta e cabe a nós e a outras empresas aproveitarem essa oportunidade. Minha esperança é que isso leve a um mundo nos próximos anos em que a maioria da carne não exija a morte de um único animal ou o abate de uma única árvore", disse Josh Tetrick, funcionário da Eat Just. 

As células de frango do produto da Eat Just são cultivadas em um biorreator de 1.200 litros e depois combinadas com ingredientes vegetais. As células usadas para iniciar o processo vieram de um banco de células e não exigiram o abate de nenhuma galinha, porque foram retiradas de biópsias de animais vivos. Os nutrientes fornecidos às células em crescimento eram todos provenientes de plantas.

A disponibilidade inicial será limitada e as “chicken bites” serão vendidas em um restaurante em Singapura, segundo informou a empresa. O produto nesse primeiro momento será mais caro do que o frango convencional. A perspectiva é que o valor diminua conforme a produção aumente. 

A Eat Just, que já tem experiência na venda de produtos  que não envolvem animais na produção, como os ovos de origem vegetal e maionese vegana, não é a única empresa que está desenvolvendo formas de cultivo de carne sem abate de animais. Dezenas de empresas estão desenvolvendo frangos, bovinos e suínos cultivados, com o objetivo de reduzir o impacto da produção pecuária industrial nas crises climáticas e naturais, além de fornecer carne mais limpa, sem hormônios e sem crueldade. Atualmente, cerca de 130 milhões de frangos e 4 milhões de porcos são abatidos todos os dias para produção de carne. 

Uma série de estudos científicos mostraram que as pessoas nos países ricos comem mais carne do que é saudável para elas ou para o planeta . Pesquisas mostram que reduzir o consumo de carne é vital para enfrentar a crise climática e alguns cientistas dizem que essa é a melhor ação ambiental que uma pessoa pode tomar.

As empresas que desenvolvem carne cultivada em laboratório acreditam que este é o produto com maior probabilidade de afastar os consumidores de carne das fontes tradicionais. Um relatório recente da consultoria global AT Kearney mostrou que, em 2040, a maior parte da carne não será proviniente de animais mortos.

As dietas veganas são vistas como desagradáveis ​​por alguns, e os substitutos à base de vegetais nem sempre são considerados como replicador da textura e o sabor da carne convencional. Já a carne cultivada em biorreatores também evita os problemas de contaminação bacteriana de dejetos animais e o uso excessivo de antibióticos e hormônios.

A pequena escala da atual produção requer um uso relativamente alto de energia e, portanto, emissões de carbono. Mas, uma vez que a produção seja ampliada, os fabricantes acreditam que será possível produzir muito menos carbono e utilizar uma quantidade muito menor de água e terra do que a carne convencional.

Tetrick acredita que um dos principais desafios seja a reação dos consumidores à carne cultivada. “É diferente? Com certeza. Nossa esperança é que, através da comunicação transparente com os consumidores, seja possível mostrar o que é e como se compara à carne convencional", afirmou. Outros desafio será obter aprovação regulatória em outros países, para que seja possível ter uma produção de larga escala.

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