Ciência

Exercícios em excesso podem levar a alterações negativas em órgãos vitais

O excesso de atividade física pode levar à perda de performance e até apresentar riscos à saúde

Atividade física: excesso faz mal à saúde, dizem pesquisadores (Pixabay/Reprodução/Divulgação)

Atividade física: excesso faz mal à saúde, dizem pesquisadores (Pixabay/Reprodução/Divulgação)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 3 de julho de 2019 às 11h04.

Última atualização em 3 de julho de 2019 às 13h23.

A prática de exercícios físicos intensos sem o tempo de recuperação adequado provoca alterações negativas em estruturas vitais do organismo, como coração, fígado e sistema nervoso central, revela pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.

Antes, já era sabido que esse tipo de treinamento intenso sem intervalos necessários levava à síndrome do overtraining, desencadeando sintomas como depressão, insônia, irritabilidade, queda na imunidade, perda de apetite e de peso.

O trabalho mostra que os prejuízos vão além da queda do rendimento. O professor Adelino Sanchez Ramos da Silva, da Escola de Educação Física e Esporte, disse que a síndrome de overtraining era explicada, até então, pelo fato de que lesões no tecido musculoesquelético causadas pelo exercício excessivo induziriam à liberação na corrente sanguínea de substâncias pró-inflamatórias (proteínas produzidas por células de defesa e conhecidas como citocinas), que desencadeariam os efeitos sistêmicos.

A pesquisa, coordenada por ele, comprovou essa hipótese, formulada há 20 anos, e mostrou que há outras alterações negativas em órgãos vitais. “O diferencial dos nossos estudos, que vêm sendo desenvolvidos há 10 anos, é que, além dessas alterações, nós verificamos, em estudos com camundongos, que o desequilíbrio entre o excesso de exercício físico e o período destinado à recuperação está associado a uma inflamação em músculos esqueléticos, sangue, hipotálamo, coração e fígado”, explicou Silva.

Subida e descida

Foram feitos testes com camundongos, submetidos a diferentes práticas de overtraining, como corrida no plano, na subida e na descida, durante oito semanas.

Todos os protocolos de exercícios em excesso provocaram prejuízo na sinalização da insulina no tecido musculoesquelético, ou seja, as células musculares ficaram com mais dificuldade de captar a glicose que circula no sangue.

“Essa dificuldade foi compensada tanto pelo coração quanto pelo fígado, que aumentaram os estoques de glicogênio”, disse Silva.

Ele acrescentou que o coração apresentou sinais de fibrose e também sinais moleculares de hipertrofia patológica. O fígado teve aumento da gordura que ocorre, por exemplo, em doenças como diabetes e obesidade.

A inflamação no hipotálamo foi associada à diminuição do apetite e do peso corporal dos camundongos.

“É importante frisar que, após duas semanas de recuperação total, em que os animais não foram submetidos a nenhuma sessão de treinamento, as alterações inflamatórias no músculo esquelético, no soro e no hipotálamo retornaram aos valores normais, no entanto, o desempenho dos animais continuou diminuído”, afirmou.

Segundo o pesquisador, esse resultado sugere que outros mecanismos, além da citocinas pró-inflamatórias, estejam envolvidos na diminuição do desempenho em resposta ao desequilíbrio entre o excesso de exercício físico e o período destinado à recuperação.

“Os próximos passos da nossa pesquisa serão avaliar animais que apresentam deficiência dessa citocinas, que são conhecidos como animais nocaute, para que possamos averiguar qual o real papel dessas citocinas”, afirmou.

Educação física

Silva destacou que o exercício físico - feito de forma regular e moderada e sob orientação de um profissional de educação física - é uma estratégia “não farmacológica extremamente eficiente para a prevenção e tratamento de diversas patologias”.

“Os nossos resultados servem como alerta para os indivíduos que treinam em excesso e não respeitam um período adequado de recuperação.

Esse período varia muito em relação a sessões de treinamento e ao nível inicial de condicionamento do praticante.

De forma geral, nós podemos dizer que um período entre 24 horas e 48 horas é suficiente para a recuperação”, finalizou.

Acompanhe tudo sobre:Exercícios FísicosSaúde

Mais de Ciência

Medicamento parecido com Ozempic reduz sintomas de abstinência de cocaína, revela estudo

Arqueólogos descobrem primeira tumba de faraó em mais 100 anos

Brasil avança no uso de germoplasma e fortalece melhoramento genético

Este é o cão com a mordida mais forte do mundo – e não é o pitbull