Marte: até hoje, apenas os americanos conseguiram pousar em Marte equipamentos que funcionaram em seguida (NASA/Reuters)
AFP
Publicado em 19 de outubro de 2016 às 16h18.
Última atualização em 19 de outubro de 2016 às 17h01.
A Europa tenta nesta quarta-feira pela segunda vez realizar um pouso em Marte, uma operação para testar a capacidade do continente de pousar um módulo de maneira segura no planeta vermelho, 13 anos depois das desventuras do pequeno robô Beagle 2.
De modo simultâneo, a sonda científica russo-europeia TGO, que no domingo se separou do seu módulo de pouso, começou a ser colocada na órbita marciana, uma operação delicada que exige grande precisão.
"Por enquanto, tudo está ocorrendo bem" para o módulo de pouso e a sonda, disse Michel Denis, diretor de operações da missão ExoMars da Agência Espacial Europeia (ESA).
A sonda e o módulo de pouso Schiaparelli constituem a primeira parte da ExoMars, uma ambiciosa missão científica entre Rússia e Europa, dividida em duas etapas (2016 e 2020) e que pretende buscar indícios de vida atual e passada em Marte.
O TGO (Trace Gas Orbiter) deve orbitar a atmosfera de Marte para detectar rastros de gases como o metano, que poderia indicar a presença de uma forma de vida atual no planeta.
Até hoje, apenas os americanos conseguiram pousar em Marte equipamentos que funcionaram em seguida.
Esta é a segunda vez que a Europa tenta conquistar o planeta vermelho. Em 2003, a sonda Mars Express lançou o pequeno módulo Beagle 2, de concepção britânica, mas o robô nunca deu sinais de vida. Os cientistas sabem desde que 2015 que ele pousou, mas estava danificado.
Depois de uma viagem de sete meses, TGO e Schiaparelli se separaram no domingo.
O módulo, com massa de 577 kg ao partir, segue agora para Marte.
"A manobra do TGO está se desenvolvendo corretamente até agora", declarou Michel Denis.
"Seis minutos de terror"
O módulo de pouso é uma cápsula de 2,40 metros de diâmetro que se parece um pouco a uma piscina inflável para bebês.
O equipamento "despertou como estava previsto" antes do pouso, informou a ESA no Twitter. "A confirmação chegou para nós através do Grande Radiotelescópio Metrewave (GRMT), na Índia", acrescentou.
Uma pequena linha pálida apareceu na tela do centro de controle, sinal de que Schiaparelli está emitindo um sinal de rádio. "É como um cabelo em uma tela cinza", disse Denis. Leva dez minutos para o sinal de rádio chegar à Terra.
O módulo de pouso deveria entrar na atmosfera marciana às 14H42 GMT (12H42 de Brasília), a 120 km da superfície, a uma velocidade de 21.000 km/h.
Depois seriam registrados os seis "minutos de terror", como dizem os engenheiros. Schiaparelli deveria frear, primeiro graças a um escudo térmico, e depois com um grande paraquedas. No fim, nove retrofoguetes seriam acionados.
Perto do solo, os motores seriam desligados. Schiaparelli teria então velocidade nula e faria uma pequena queda livre de um ou dois metros.
O impacto final, previsto para as 14H48 GMT, deveria ser amortecido por uma estrutura especial destinada a proteger a sonda do pouso.
Como saber se tudo ocorreu como estava previsto? As próximas horas serão decisivas para averiguá-lo.
Além do telescópio indiano, a sonda Mars Express, que continua ativa, também está rastreando o sinal, enquanto a americana MRO deverá coletar dados várias horas depois do pouso.
Schiaparelli devia pousar no interior de uma elipse da planície equatorial do Meridiani Planum, na que já desembarcou, em 2004, o robô americano Opportunity.
O módulo é equipado com uma pequena estação meteorológica que irá medir a pressão, temperatura, velocidade do vento, assim como os campos elétricos na superfície de Marte.
A vida de Schiaparelli será curta: cerca de dois a oito dias, já que tem apenas uma bateria não recarregável.
Esta quarta-feira era um dia crucial também para a sonda TGO, que transporta quatro instrumentos, dos quais dois foram construídos pelos russos.
A sonda deverá frear para ser captada pela atração de Marte e entrar em órbita. Começará sua missão científica no início de 2018.