Acredita-se que os nutrientes presentes nesses alimentos, como vitaminas, minerais, flavonoides e carotenoides, são um fator de influência positiva (Rebeca Mello/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 13 de outubro de 2021 às 11h19.
Não é segredo para ninguém que a base da boa saúde é uma dieta saudável. Mas evidências recentes mostram que determinados alimentos podem impactar diretamente na saúde do cérebro e no bem-estar mental. A mais recente delas, de um estudo que será publicado na edição de novembro da revista científica Journal of Affective Disorders, revelou que a ingestão de cogumelos, por exemplo, como champignon e o shitake, está associada à redução do risco de depressão.
Trabalhos anteriores já haviam associado o consumo do fungo à diminuição do risco de câncer e morte prematura. Agora, pesquisadores da Penn State College of Medicine, nos Estados Unidos, descobriram mais um benefício dos cogumelos, após analisarem dados do regime e da saúde mental de mais de 24 mil adultos americanos, coletados entre 2005 e 2016. Os resultados mostraram que aqueles que comiam esses alimentos tinham menor probabilidade de desenvolver o transtorno, em comparação com as pessoas que não tinham esse hábito.
Os cogumelos contêm vários compostos, incluindo vitamina B12, fator de crescimento nervoso (chamado BDNF), além de antioxidantes e agentes anti-inflamatórios. Entre essas substâncias, a ergotioneína, um poderoso antioxidante que pode proteger contra danos às células e tecidos do corpo, presente em grande quantidade nesses fungos, seria o principal responsável pelo efeito protetivo na saúde mental.
— Esse estudo reforça a importância de o brasileiro incluir o cogumelo na sua alimentação diária, o que ainda não é uma prática muito comum — diz o nutrólogo e médico do esporte Eduardo Costa Rauen, professor da pós-graduação de nutrologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os pesquisadores não observaram uma relação entre a quantidade e os benefício. Eles identificaram que quem consumiu cogumelos teve menos riscos em relação aos que excluíram o alimento da dieta.
Um segundo estudo, publicado na Clinical Nutrition, chegou a conclusões semelhantes, mas desta vez com frutas e vegetais, e em porções quantificadas. Pessoas que comeram pelo menos 470 gramas diários desses alimentos apresentaram níveis de ansiedade 10% mais baixos do que aqueles que consumiram menos de 230 gramas desses itens.
Acredita-se que os nutrientes presentes nesses alimentos, como vitaminas, minerais, flavonoides e carotenoides, são um fator de influência positiva. Essas substâncias, em especial os flavonoides, responsáveis pelas cores vibrantes de alimentos de origem vegetal, têm efeito anti-inflamatório e antioxidante.
Outras evidências mostram o papel ainda maior dos flavonoides. Uma equipe da Universidade Harvard confirmou em setembro o poder na redução do declínio cognitivo associado ao envelhecimento. A análise, uma das maiores realizadas até hoje, descobriu que o consumo de alimentos ricos nesses compostos ajuda a conter o esquecimento e a confusão mental apresentadas por idosos e que, muitas vezes, precedem um diagnóstico de demência.
Os cientistas avaliaram dados de saúde e dieta de mais de 77 mil homens e mulheres de meia-idade, coletados ao longo de 20 anos. As informações incluíam a frequência com que os participantes comeram alimentos ricos em flavonoides ao longo desse período e relatos sobre possíveis alterações de cognição, como dificuldade de lembrar eventos recentes ou uma pequena lista de itens, problema para compreender instruções, acompanhar uma conversa em grupo ou para encontrar o caminho ao se locomover por ruas familiares, quando estavam na faixa etária dos 70 anos de idade.
As substâncias encontradas principalmente nas especiarias, no morango, no espinafre cru, além de frutas e vegetais amarelos e alaranjados, como a abóbora, tiveram o efeito protetor mais forte: elas foram associadas a uma redução de 38% no risco de declínio cognitivo.
Há ainda mais uma explicação para essas ações. Esses antioxidantes poderosos podem combater a inflamação no cérebro e o acúmulo de beta-amiloide, uma das marcas registradas do Alzheimer. Além disso, essas substâncias também desempenham um papel importante na manutenção de vasos sanguíneos saudáveis, o que ajuda a manter o sangue fluindo para o cérebro, fortalecendo conexões, promovendo o crescimento de novas células cerebrais e aumentando o tamanho do hipocampo, uma parte do cérebro envolvida no armazenamento e recuperação de memórias.
Enquanto a ciência não crava a porção ideal para o efeito no cérebro, os especialistas recomendam “colorir o prato o máximo possível”.
— O benefício está no equilíbrio do que comemos e não em um alimento específico — diz Rauen.