(foto/Getty Images)
AFP
Publicado em 29 de junho de 2018 às 11h39.
A crosta que envolve planetas rochosos e possibilita o surgimento da vida tomou forma em Marte antes do que se pensava, e pelo menos 100 milhões de anos antes do que a da Terra, disseram pesquisadores nesta semana.
Analisando os grãos do zircão mineral extraídos de um meteorito marciano conhecido como Beleza Negra, os pesquisadores determinaram que a camada externa do Planeta Vermelho endureceu 4,547 bilhões de anos atrás, apenas 20 milhões de anos após o nascimento do Sol.
"A formação inicial da crosta de Marte - que é o produto final da formação planetária - aconteceu muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente", disse Martin Bizzarro, cientista do Centro de Formação de Estrelas e Planetas da Dinamarca e autor sênior de um estudo publicado na revista científica Nature.
"Nossos resultados indicam que Marte pode ter tido um ambiente com oceanos, e potencialmente vida, muito antes da Terra", disse à AFP.
A água é considerada um precursor essencial para a vida como a conhecemos.
Marte já foi muito mais parecido com a Terra, com uma atmosfera espessa, água abundante e oceanos.
Até agora, modelos matemáticos sugeriram que a solidificação do Planeta Vermelho levou até 100 milhões de anos.
O novo estudo aborda a questão examinando um pedaço de Marte que entrou no deserto do Saara e foi descoberto em 2011.
O meteorito Beleza Negra pesava 320 gramas quando encontrado. Os pesquisadores protegeram 44 gramas da preciosa rocha espacial e esmagaram cinco - o suficiente para extrair sete pedaços de zircão que poderiam ser usados em experimentos.
Medindo o chumbo decaído do urânio que estava preso em zircão quando o magma derretido do jovem Marte endurecia, os cientistas conseguiram datar com precisão a crosta da qual o zircão se formou.
"Estou feliz por termos escolhido essa estratégia", disse Bizzarro. "O zircão é como uma cápsula do tempo".
Existem dois modelos principais para a formação de planetas.
Em um deles, esta ocorre em etapas, com pequenas partículas de poeira se aglutinando em "planetesimais" - fragmentos de rocha de dez a 100 quilômetros de diâmetro - que colidem para formar embriões planetários, e depois planetas, em uma escala de tempo de 50 a 100 milhões de anos.
De acordo com um modelo mais recente, o crescimento planetário desdobra-se mais rapidamente e é alimentado pela chamada "acreção de seixos", o acúmulo em camadas de partículas medidas em centímetros e metros que estão fracamente ligadas a gases.
"Nossos dados apoiam modelos mais recentes que indicam a formação muito rápida de planetas terrestres", disseram os autores.
A nova linha do tempo sugere que algo semelhante pode ter acontecido em nosso planeta, mas somente depois da Terra ter sido "redefinida" pelo impacto gigante que formou a Lua há cerca de 4,4 bilhões de anos, disse Bizzarro.
Acredita-se que Marte tenha um núcleo metálico denso com um raio de cerca de 1.800 quilômetros, que consiste principalmente em ferro, níquel e enxofre.
O núcleo é cercado por um manto em grande parte adormecido - de cerca de 1.500 km de espessura - formado principalmente de silício, oxigênio, ferro e magnésio.
Finalmente, a crosta mede em média 50 km de profundidade, com um máximo de cerca de 125 km. A crosta terrestre tem uma média de 40 km, mas tem um terço da espessura da crosta marciana quando o tamanho do planeta é levado em consideração.