Quimioterapia: estudo comprovou que as variações na quantidade de mitocôndrias podem ser a causa da sensibilidade diferente de células geneticamente idênticas ao mesmo tratamento antitumoral (Justin Sullivan/Getty Images)
EFE
Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 12h48.
Última atualização em 26 de janeiro de 2018 às 12h52.
Madri - Pesquisadores espanhóis constataram que através do número de mitocôndrias de uma célula tumoral pode-se predizer sua sensibilidade à quimioterapia: aquelas que têm um elevado número são as que respondem bem ao tratamento.
Esta é a principal conclusão de um estudo publicado na revista "Nature Communications", que segundo os seus autores poderia explicar por que algumas células morrem após o tratamento antitumoral enquanto novas, geneticamente idênticas, são capazes de sobreviver e causar o reaparecimento do câncer.
A quantidade de mitocôndrias poderia ajudar, portanto, para predizer a sensibilidade do paciente a um determinado tratamento.
Em um comunicado de imprensa, o Centro Nacional de Biotecnologia do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CNB-CSIC) da Espanha lembra que um dos grandes problemas dos tratamentos de quimioterapia é a resistência que alguns pacientes apresentam.
Isto acontece devido a que o tratamento não é eficaz contra todas as células cancerígenas; algumas sobrevivem e são capazes de regenerar o tumor.
Este estudo comprovou que as variações na quantidade de mitocôndrias - fábricas de energia das células de organismos superiores - podem ser a causa da sensibilidade diferente de células geneticamente idênticas ao mesmo tratamento antitumoral.
Tradicionalmente, as diferenças de sensibilidade à quimioterapia tinham sido associadas às variações genéticas.
"Nem tudo é determinado pela genética, o contexto interno e externo influi profundamente na célula", detalhou Francisco Iborra, diretor do trabalho e pesquisador do CNB-CSIC, acrescentando que estes resultados indicam que somente as células com um elevado número de mitocôndrias respondem bem ao tratamento.
O motivo pelo qual algumas células têm mais mitocôndrias do que outras está no fato de a distribuição não ser equitativa durante a divisão celular.
Este trabalho poderia oferecer novas ferramentas para escolher que tratamento atribuir a um determinado paciente.
"Até o momento, não tínhamos biomarcadores que nos servissem para predizer a resposta das células com tumor aos tratamentos convencionais; acreditamos que a massa mitocondrial poderia ser um bom indicador de prognóstico e predizer se um tratamento será efetivo para um determinado câncer", acrescentou o cientista.
Por enquanto, o estudo tem sido realizado em células tumorais em cultivo 'in vitro'.
Além disso, análise de biópsias de câncer de cólon apoiaram a hipótese da correlação entre a massa mitocondrial e as proteínas que induzem a morte da célula.
"Agora estamos começando a segunda parte do trabalho: validar os resultados em mostras de diferentes tumores e com diferentes fármacos, o que vai servir para corroborar se estas observações são extrapoláveis à clínica", resumiu Iborra.