Sol: com a redução da exposição à radiação solar que, segundo cientistas, ocorreu no século 6, as pessoas tiveram dificuldade para produzir vitamina D e ficaram mais suscetíveis a doenças (NASA/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de maio de 2018 às 15h51.
Última atualização em 11 de maio de 2018 às 15h52.
São Paulo - Um nova pesquisa realizada por cientistas da Finlândia mostra que erupções vulcânicas violentas mudaram o clima da Terra no século 6 d.C. e possivelmente agravaram as consequências da chamada Praga de Justiniano, que devastou o Império Bizantino no início da Idade Média.
De acordo com o estudo, publicado na revista Popular Archaeology, uma série de erupções vulcânicas contribuiu para reduzir incidência da luz solar, produzindo um período frio e sombrio, tornando a sobrevivência difícil no Império Bizantino, especialmente no ano 536 e entre 541 e 544 d.C.
"Nossa pesquisa mostra que a anomalia climática, que cobriu todo Hemisfério Norte, foi o resultado final de diversas erupções vulcânicas", disse um dos autores do estudo, Markku Oinonen, diretor Laboratório de Cronologia do Museu Finlandês de História Natural.
A descoberta reforça a tese defendida por outro dos autores do artigo, Kyle Harper, em seu livro O Destino de Roma. De acordo com ele, um extenso período com pouca luz solar torna a sobrevivência humana mais difícil, já que afeta a produtividade das plantações e da pecuária.
Além disso, com a redução da exposição à radiação solar, as pessoas têm dificuldade para produzir vitamina D e ficam mais suscetíveis a doenças.
Segundo os cientistas, no século 6, o Sol ficou encoberto por longos períodos de tempo pelos aerossóis - minúsculas partículas sólidas que ficam em suspensão na atmosfera - que foram liberados nas erupções vulcânicas.
Segundo os cientistas, as populações ficaram enfraquecidas, com o sistema imunológico comprometido pela combinação da falta de vitamina D e pela fome causada pelas precárias condições para produção de alimentos.
Para realizar o estudo, os cientistas utilizaram a dendrocronologia, que é a datação feita a partir da contagem dos anéis de troncos de árvores. Eles estudaram anéis de crescimento de depósitos de árvores que cobrem um período de 7,6 mil anos.
Boa parte das árvores estudadas está no fundo de pequenos lagos. As amostras têm sido registradas pelos cientistas finlandeses desde a década de 1990.
"Os pesquisadores fizeram um calendário que reúne os dados anuais de crescimento de anéis de pinheiros que abrange mais de 7,6 mil anos. Vários eventos históricos podem ser contrastados com o calendário.
O calendário de anéis de crescimento é um importante indicador de mudanças climáticas globais", disse outro dos autores do artigo, Samuli Helama, também do Museu Finlandês de História Natural.
As amostras do novo estudo foram datadas com a ajuda do calendário de anéis de crescimento e lascas de amostras foram extraídas para cada ano do calendário. A partir desse material, os cientistas realizaram uma análise da variação dos isótopos de carbono nos anéis das árvores.
As variações entre os isótopos de carbono nos diferentes anéis de crescimento, segundo os cientistas, refletem a taxa de fotossíntese das árvores, que está diretamente ligada à quantidade de radiação solar disponível durante o verão.
O novo estudo revelou uma dramática redução da luz solar disponível no ano 536 e em todo o período que vai de 541 a 544 d.C. As variações entre as temperaturas dos verões também foi reconstruída, com base na densidade dos anéis de crescimento anual das árvores.
O período anômalo de pouca insolação coincide com a epidemia de peste bubônica que devastou o Império Romano do Oriente a partir de 542 d.C, dizimando metade de sua população, ou cerca de 50 milhões de pessoas até o século 8.
Essa pandemia, que ficou conhecida como Praga de Justiniano, foi transmitida pela bactéria Yersinia pestis. A mesma bactéria causaria mais tarde a Peste Negra, pandemia que matou quase metade da população da Europa no século 14.A Praga de Justiniano se espalhou por toda a Europa, desde o Mar Mediterrâneo até a Escandinávia.
Além dos pesquisadores do Museu Finlandês de História Natural, participaram também do estudo cientistas da Universidade da Finlândia Oriental, do Instituto Meteorológico da Finlândia, da Universidade de Turku e do Centro de Pesquisa Geológica da Finlândia.