Coronavírus: anticorpos podem não ser duradouros (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 27 de outubro de 2020 às 06h56.
Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 15h46.
Os anticorpos do novo coronavírus desaparecem rapidamente depois da infecção, pondo em xeque a teoria da imunidade de rebanho --- ao menos é o que aponta estudo realizado pelo Imperial College London com 365 mil pessoas no Reino Unido. Segundo a análise dos pesquisadores, que foi realizada entre junho e setembro deste ano, o número de pessoas com os anticorpos necessários para lutar contra as infecções da covid-19 caiu em 26% durante o período do estudo. Quer entender a evolução da pandemia e o cenário de reabertura no país? Acesse a EXAME Research.
Isso significa que a porcentagem de pessoas do país com anticorpos caiu de 6% para 4,4% em apenas três meses. "Esse estudo mostrou que a proporção de pessoas com anticorpos detectáveis está caindo com o passar do tempo. Não sabemos se isso deixará as pessoas com mais riscos de reinfecção, mas é essencial que todos continuem a seguir as regras para reduzir o risco para si mesmos e para os outros", afirmou Helen Ward, uma das autoras do estudo.
O resultado da pesquisa também sugere que pessoas com quadros assintomáticos da covid-19 estão mais suscetíveis a perder os anticorpos do que aqueles que apresentaram algum dos sintomas da doença. Todas as faixas etárias são afetadas por esse declínio, mas ele é maior em idosos. Com a idade, o sistema imunológico se torna mais enfraquecido, o que pode ajudar a entender porque pessoas mais velhas têm mais risco de morte por complicações causadas pelo vírus.
A teoria da imunidade consiste no efeito de proteção que surge nas pessoas quando grande parte se vacinou contra uma doença — assim, mesmo quem não tomou a vacina fica protegido. Muitos acreditam que o indivíduo, ao contrair a SARS-CoV-2, se torna imune a ela. Assim, quanto mais gente for infectada, maior a chance de todos se tornarem imunes. É daí que vem o termo “imunidade de rebanho”. Com ela, todos estariam protegidos. No caso da covid-19, fica difícil imaginar que a situação possa ser resolvida dessa forma, já que ainda não existe uma vacina.
Nenhum estudo comprovou ainda se a imunidade após o contágio do novo coronavírus realmente acontece e casos de reinfecção já foram confirmados em alguns lugares do mundo. Mesmo se acontecer, em outras variações do vírus (como a OC43 e a HKU1), as pessoas ficam imunes por um período determinado de tempo. A imunidade só dura até que surja uma nova cepa do vírus, uma vez que a mutação é inerente a ele. É o que nos faz pegar gripe mais de uma vez, por exemplo.
Fora isso, a estratégia da imunidade teria um custo social alto: a perda de vidas, não só de pessoas em grupos de risco, mas também de jovens e pessoas aparentemente saudáveis.