A esquerda, a nova espécie T. achilles. A direira, outra espécie colombiana, T. (Atreus) icarus (Léo Laborieux/Zoological Journal of the Linnean Society/Divulgação)
Repórter
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 10h11.
Última atualização em 22 de janeiro de 2025 às 10h14.
O escorpião é uma das criaturas mais perigosas do planeta, graças ao seu veneno altamente tóxico, liberado por meio de picadas que podem causar graves acidentes domésticos e, em casos extremos, levar à morte. Algumas espécies, porém, possuem a habilidade de pulverizar o veneno sem precisar picar. Esse comportamento, antes registrado somente na América do Norte e na África, foi recentemente observado pela primeira vez na América do Sul, na Colômbia.
A espécie recém-descoberta, chamada Tityus achilles, foi apresentada em dezembro de 2024 em um artigo no Zoological Journal of the Linnean Society. A descoberta ocorreu em Cundinamarca, região onde fica Bogotá, capital colombiana, em uma área montanhosa da floresta tropical de Magdalena. Até então, apenas dois gêneros de escorpiões, ambos de outros continentes, eram conhecidos por possuir essa habilidade.
A pulverização de veneno é extremamente rara entre as cerca de 2 mil espécies de escorpiões catalogadas. Normalmente, esses aracnídeos inoculam o veneno através da cauda, o metassoma, onde se encontram o télson (ferrão) e as glândulas responsáveis pela produção da substância tóxica.
No caso das espécies que pulverizam veneno, o contato físico não é necessário. Elas são capazes de lançar jatos tóxicos diretamente contra o rosto de predadores, atingindo principalmente os olhos e o nariz. Essa tática costuma ser suficiente para distrair o agressor e garantir a fuga do escorpião, mesmo sem causar a morte do oponente.
A anatomia do Tityus achilles indica que o jato é projetado de maneira a atingir regiões sensíveis do predador. No entanto, a eficácia dessa estratégia é limitada, já que o veneno nem sempre atinge o alvo com precisão.
"Para que essas toxinas sejam eficazes, elas precisam alcançar tecidos extremamente sensíveis", explica Léo Laborieux, mestrando na Ludwig Maximilian University, na Alemanha, e autor do estudo, em entrevista ao portal Live Science. "Por isso, o predador geralmente precisa ser um vertebrado. Em outros invertebrados, com exoesqueletos, os efeitos seriam mínimos."
Em laboratório, o comportamento do T. achilles foi analisado com 10 jovens escorpiões, que foram colocados em canudos para observar suas emissões de veneno. Durante os testes, ocorreram 46 disparos, com alcance máximo de 36 centímetros. A maioria dos jatos foi lançada para frente. Em alguns momentos, os escorpiões liberaram pequenas gotas em resposta ao estímulo, enquanto em outros lançaram jatos contínuos.
A pulverização apresentou um aspecto transparente, sugerindo ser uma espécie de pré-veneno – menos potente que o veneno principal, este de coloração leitosa e maior toxicidade. "O veneno propriamente dito contém peptídeos e proteínas de maior peso molecular, substâncias mais complexas e caras para o organismo produzir", detalha Laborieux.
Apesar de também ser capaz de picar, o T. achilles parece usar a pulverização como um mecanismo de defesa mais econômico e estratégico. "Disparar veneno é uma tática cara", ressalta o pesquisador. "Para que seja vantajosa, deve haver uma forte pressão ambiental que justifique sua utilização. É provável que os predadores locais desempenhem um papel crucial nesse comportamento."