Ciência

Eslováquia começa a testar toda a população para a covid-19

Criticada por especialistas, a testagem em massa busca identificar e isolar as pessoas que carregam o novo coronavírus

Teste da covid-19 na Eslováquia: o governo quer identificar e isolar as pessoas com o vírus (Radovan Stoklasa/Reuters)

Teste da covid-19 na Eslováquia: o governo quer identificar e isolar as pessoas com o vírus (Radovan Stoklasa/Reuters)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 30 de outubro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 30 de outubro de 2020 às 09h44.

A Eslováquia dá início nesta sexta-feira (30) a uma campanha inédita para testar toda a população do país do Leste Europeu. O programa de testagem em massa é destinado a todas as pessoas com mais de 10 anos, o que pode alcançar cerca de 4 milhões dos 5,5 milhões de habitantes.

Embora a escala seja pequena, esta é a primeira vez que um país decide testar toda a sua população para a covid-19.

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O objetivo é identificar os casos de covid-19 e isolar as pessoas que estão com o coronavírus. A medida foi tomada depois de a Eslováquia registrar números recordes de novos casos nas últimas semanas, em meio a uma segunda onda de infecções que atinge diversos países da Europa.

“É uma solução. E se fizermos isso juntos temos a chance de evitar um lockdown completo e salvar centenas de vidas”, disse o primeiro-ministro Igor Matovic a jornalistas na segunda-feira.

O plano do governo é testar cada indivíduo duas vezes: uma neste final de semana, e outra no fim de semana dos dias 6 a 8 de novembro. Escolas, prédios públicos e até centros esportivos serão transformados em centros de testagem para receber a população.

Quem tiver o resultado positivo será obrigado a permanecer em total isolamento em casa por 10 dias ou a se hospedar em um dos abrigos de quarentena oferecidos pelo governo.

O teste não é obrigatório, mas quem se recusar a fazê-lo terá de se isolar em casa por 10 dias da mesma maneira. Quem descumprir a ordem – ou não apresentar um certificado da testagem – poderá ser multado em 1.650 euros (aproximadamente 11.100 reais).

No fim de semana passado, o governo organizou uma campanha piloto em uma das regiões do país mais afetadas pela pandemia. Quase 141.000 pessoas foram testadas e 5.594 tiveram o resultado positivo.

A medida segue o exemplo recente de metrópoles chinesas. Em Qingdao, as autoridades decidiram testar toda a população de 9 milhões de habitantes depois de 12 casos do coronavírus terem sido identificados em outubro. A cidade de Wuhan, onde a doença foi relatada pela primeira vez, também havia testado seus 11 milhões de habitantes em junho.

A testagem em massa divide os especialistas. Se por um lado a medida ajuda a identificar os casos de covid-19 e isolar as pessoas infectadas para evitar a propagação da doença, por outro, existe uma série de riscos numa operação com essa complexidade.

A campanha envolve um número grande de agentes de saúde e funcionários públicos na sua organização. Além disso, as próprias pessoas podem se contaminar – ou contaminar os agentes de saúde – no local de testagem.

“Há muitos riscos: se a população não for comunicada corretamente sobre o objetivo da campanha ou sobre o processo de testagem isso pode causar mal-entendidos, frustrações, medo e resistência”, disse Alexandra Brazinova, epidemiologista da Universidade Comenius, em Bratislava, capital da Eslováquia, em entrevista à revista médica The Lancet.

Outro problema é que o teste rápido aplicado na Eslováquia se baseia em antígenos para identificar a presença do vírus e é menos preciso do que os testes de PCR. Há um risco alto de haver muitos casos de falsos positivos e falsos negativos, levando a isolamentos forçados desnecessários ou fazendo com que pessoas infectadas continuem espalhando a doença.

De todo modo, a comunidade médica e científica irá acompanhar com atenção a experiência da Eslováquia e buscar soluções mais efetivas para combater as novas ondas da pandemia. “Será um bom estudo de caso. Se funcionar, será informativo para o restante do mundo”, disse Luke O’Neill, professor de bioquímica da universidade Trinity College, de Dublin, em entrevista ao Wall Street Journal.

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