Borboleta: Cada escama é como uma impressão digital, por ter relevos únicos, diferentes entre si e de tamanho nano (BSIP/Getty Images)
EFE
Publicado em 22 de agosto de 2019 às 13h39.
Última atualização em 22 de agosto de 2019 às 13h47.
Belgrado — A mais recente tecnologia antifalsificação são as pequenas escamas que dão as mais belas e chamativas cores às borboletas, estruturas microscópicas únicas que são a chave para blindar cartões de crédito, chaves, documentos e até obras de arte.
O segredo das escamas foi descoberto pelos pesquisadores do Instituto de Física de Belgrado, que desenvolveram a tecnologia Teslagram, capaz de revolucionar a indústria antifalsificação com essas estruturas biológicas.
Cada escama, de cerca de 0,1 milímetro de comprimento, 0,03 mm de largura e 0,002 mm de altura, é como uma impressão digital, por ter relevos únicos, diferentes entre si e de tamanho nano. E não existe a tecnologia que possa fazer uma cópia delas.
"Essas escamas têm formas que fazem cada uma delas únicas. São tão pequenas que não é possível copiá-las. E se trata de estruturas 3D, como pequenos hologramas 3D, que são únicos e impossíveis de copiar", disse a diretora do Centro de Inovações do Instituto de Física de Belgrado, Marija Mitrovic Dankulov, à Agência Efe.
Outra vantagem é que poucas borboletas podem proteger um número bastante elevado de objetos. "Em uma borboleta, há entre 100 mil e 200 mil escamas. Uma dessas escamas é suficiente para proteger um objeto", explicou Marija.
As pequenas escamas são tiradas das asas das borboletas depois de sua morte natural, de modo que fiquem inteiras para serem aplicadas no objeto que será protegido. A forma como essa escama se adere varia de material para material, e ainda é um desafio para os cientistas.
Por enquanto, o Teslagram foi desenvolvido para proteger cartões de crédito ou chaves, seja de um quarto de hotel ou de um carro, ou até mesmo de uma usina nuclear ou de um espaço para guardar dados importantes para organizações, incluindo o Governo.
Também pode proteger objetos de arte, já que o tamanho não modifica o aspecto de uma pintura ou uma escultura, mas representa uma garantia a um museu contra qualquer tentativa de falsificação das suas obras.
O campo de aplicação dessa tecnologia é amplo, e em um futuro pode proteger até o papel-moeda, diversas marcas de moda de relógios de pulseira, óculos, roupa e até remédios.
Um grande número de espécies dos animais é adequado para o uso na tecnologia Teslagram. Tudo começou em 2010 com a pesquisa das cores das borboletas, o que deu a pista para a descoberta da potência das escamas na luta contra a falsificação.
As cores iridescentes das asas não se devem a um pigmento, mas são o efeito da interação da luz com as nanoestruturas das escamas, e mudam dependendo do ângulo de observação. Justamente por isso, representam um holograma natural irrepetível.
Os cientistas do instituto sérvio fizeram testes com análise estatística e comprovaram que não existem duas escamas iguais.
"A complexidade em uma escama é tamanha que apenas uma parte dela bastaria para proteger um objeto", disse à Efe o doutor em física Dimitrije Stepanenko, cientista do Instituto de Física de Belgrado, que destacou que nenhum elemento de proteção usado atualmente é tão eficiente quanto as escamas.
"Se alguém descobrir como imprimir um determinado holograma em papel-moeda, pode fazer muitas notas de 100 euros. Se descobrir como copiar uma escama, o que acreditamos que é impossível, mas imaginemos a situação, só pode falsificar uma nota, porque para outra a escama vai ser diferente, e então o falsificador precisaria trabalhar novamente desde o começo", disse, para ilustrar a segurança da tecnologia.
O cientista opinou que, em caso de notas, a escama funcionaria bem em combinação com outros sistemas de proteção existentes, mas em objetos como uma chave pode ser a única e completa proteção.
Em um próximo futuro, possivelmente dentro de menos de um ano, são esperados os primeiros clientes comerciais para o sistema de segurança baseado nas chaves protegidas pela tecnologia do Teslagram.
O leitor de Teslagram que reconhece o objeto protegido pela escama também foi desenvolvido por esse grupo de pesquisadores, que registraram a patente e a marca.
Cerca de 30 pesquisadores, físicos, biólogos, engenheiros de mecânica e programadores trabalharam no desenvolvimento da tecnologia, denominada Teslagram em homenagem ao grande cientista americano de origem sérvia Nikola Tesla. O sufixo "gram" vem analogia com os elementos altamente desenvolvidos e de amplo uso para a proteção, como hologramas ou kinegramas. EFE