Carl Sagan: cientista renomado já estava de olho em Vênus na década de 60 (CBS Photo Archive / Colaborador/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 14 de setembro de 2020 às 14h37.
Última atualização em 14 de setembro de 2020 às 14h56.
O artigo, publicado em 1º de dezembro de 1967, fazia o seguinte questionamento: "vida na superfície de Vênus?". O autor não poderia ser outra pessoa além do cientista e divulgador científico renomado Carl Sagan, que fez história em sua área de atuação. Mal sabia ele que 53 anos depois daquele artigo, publicado na prestigiada revista científica Nature, cientistas descobriram indícios de possíveis micróbios vivendo no planeta, muitas vezes ignorado pela ciência quando o assunto é buscar novas formas de vida extraterrestres.
Sagan, em parceria com o biofísico molecular Harold Morowitz, investigou o planeta ao enviar diversas sondas para lá entre os anos de 1962 e 1978. Os resultados indicaram que a superfície de Vênus basicamente impedia qualquer forma de vida.
Ao mesmo tempo, Sagan e Morowitz imaginaram um ser venusiano semelhante a uma bola, capaz de flutuar nas nuvens do planeta extremamente quente — o que virou piada até mesmo para o cientista anos depois da afirmação.
"Mesmo se a superfície for quente, as regiões polares podem ser frias o suficiente para sustentar a vida, ou podem existir montanhas suficientemente altas, e assim por diante", afirmou Sagan no resumo de seu artigo. Anos depois, descobriu-se que a temperatura de Vênus tornava a vida no planeta praticamente impossível, uma vez que, tão quente, alcançava até os 462,2 graus Celsius. Para Sagan, na época, montanhas venusianas poderiam tornar o clima um pouco mais amigável para uma forma de vida existir.
"Parece apropriado relacionar algumas dessas especulações para continuar trabalhando no ambiente de Vênus", continuou ele no resumo do artigo. Foi Sagan, também, o primeiro a sugerir que a temperatura do planeta não era amena como os cientistas acreditavam na época, e sim extremamente quente.
Em 1961, Sagan escreveu outro artigo sobre Vênus. No resumo deste, o cientista afirmou que "descobertas recentes colocaram a superfície do planeta à luz, bem como a biologia do planeta mais próximo".
Apesar das altas temperaturas, a Nasa, agência espacial americana, indicou há quatro anos que Vênus pode ter tido um clima habitável e água líquida de 2 a 3 bilhões de anos no início de sua existência. O que aconteceu depois, segundo a agência, foi um processo que há 700 milhões de anos causou um efeito estufa no planeta forte o bastante para transformar a atmosfera de Vênus em algo extremamente denso e quente.
No ano passado, um estudo publicado no períodico Astrobiology quis entender se Vênus era mesmo o local ideal para buscar vida extraterrestre. O estudo buscava compreender se a existência de vida era possível nas nuvens do planeta, consideradas "um objetivo excepcional de exploração devido a condições favoráveis existentes à vida microbiana" pelos cientistas.
Nesta segunda-feira, 14, cientistas encontraram indícios de que existe vida em Vênus, que fica a cerca de 41 milhões de quilômetros distante da Terra, o planeta mais próximo do nosso. A pesquisa indica que podem existir micróbios em Vênus, indício mais forte encontrado sobre vida extraterrestre até o momento e que deve mudar o foco dos demais pesquisadores, por tanto tempo ligados a Marte (tão distante da Terra), para Vênus.
A verdade é que as descobertas planetárias seriam muito mais superficiais sem o trabalho de Sagan, sejam elas sobre Vênus, Marte ou a Lua. Foi de Sagan a ideia de capturar uma foto da Terra à distância, a fim de entender como o nosso planeta parecia quando visto do espaço.
Como dizia Sagan, por fim, "em algum lugar, algo incrível está esperando para ser descoberto".