Repórter
Publicado em 7 de janeiro de 2025 às 18h51.
Última atualização em 7 de janeiro de 2025 às 19h02.
Uma nova análise liderada por físicos e astrônomos da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, desafia um dos conceitos mais debatidos na ciência moderna: a existência da energia escura.
Este elemento, que se acredita compor cerca de dois terços da densidade de massa-energia do Universo, foi introduzido como uma explicação para a aparente aceleração da expansão cósmica. No entanto, a pesquisa mais recente sugere que o fenômeno pode ser resultado de um modelo de tempo e espaço diferente do convencional.
O estudo introduz evidências para o modelo "timescape", que questiona a uniformidade da expansão do Universo.
Em vez de considerar o cosmos como um espaço homogêneo, como supõe a equação de Friedmann (que afirma que o Universo é homogêneo e isotrópico, ou seja, possui propriedades uniformes em todas as direções e regiões), o novo modelo leva em conta as variações na gravidade e na percepção do tempo.
Segundo os pesquisadores, o tempo flui mais lentamente dentro de galáxias densas, como a Via Láctea, em comparação com regiões vastas e vazias do Universo. Essa diferença, calculada em até 35% de desaceleração do tempo nas galáxias, cria uma ilusão de que a expansão do cosmos está se acelerando.
O modelo propõe que a energia escura, em vez de ser uma força misteriosa, é, na verdade, um mal-entendido de como o tempo e o espaço interagem em diferentes partes do Universo.
"A energia escura é uma má interpretação das variações na energia cinética da expansão", afirmou o professor David Wiltshire, que lidera a pesquisa. "Não precisamos dela para explicar a aceleração aparente do cosmos."
Os cientistas também abordam um dos maiores desafios da cosmologia moderna, conhecido como Hubble tension: uma discrepância entre as taxas de expansão do Universo medidas por diferentes métodos.
O modelo "timescape" oferece uma explicação potencial para essa inconsistência, atribuindo-a às complexas estruturas cósmicas, como aglomerados de galáxias, folhas e filamentos, que cercam vastos vazios.
O estudo utilizou dados mais precisos de 1.535 supernovas, coletados pela equipe do Pantheon+, para reforçar sua hipótese. Futuras observações dos telescópios espaciais Euclid e Nancy Grace Roman serão cruciais para testar a viabilidade do modelo.
Os próximos anos prometem ser decisivos para a cosmologia.
A equipe espera que, com pelo menos mil observações de alta qualidade, seja possível confirmar ou refutar o modelo "timescape". Além disso, os dados podem ajudar a resolver outras anomalias associadas à expansão cósmica.
A ideia de que a energia escura pode não existir tem potencial para reescrever um século de teorias sobre o Universo. E o enigma da expansão cósmica parece estar mais perto de uma resposta definitiva — ou, talvez, de novas perguntas.