Ciência

Em estudo, especialistas vão avaliar uso de corticoide contra coronavírus

A pesquisa será conduzida por Roberto Zeballos, clínico geral, imunologista e alergista junto ao Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor)

Medicamentos: pesquisadores avaliam a eficácia de diversos remédios contra o coronavírus (Pixabay/Reprodução)

Medicamentos: pesquisadores avaliam a eficácia de diversos remédios contra o coronavírus (Pixabay/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 14 de abril de 2020 às 17h07.

Protocolo para avaliar a eficácia do uso de corticoide no tratamento do coronavírus foi assinado nesta segunda-feira. O estudo será conduzido por Roberto Zeballos, clínico geral, imunologista e alergista junto ao Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor). Ele relata registrar melhora das lesões pulmonares observadas em pacientes infectados pela doença em seis a sete dias.

Leandro Reis, vice-presidente da Rede D’Or, afirma que a situação dos hospitais do grupo indicam haver uma tendência de redução na velocidade em que avançam as invernações em razão do novo coronavírus em São Paulo, mas que é cedo para afirmar que o estado tenha chegado ao pico da doença.

— Já atendemos quase 4 mil pacientes testados positivos para Covid-19. Temos neste momento pouco mais de 700 internados em nossos hospitais, sendo 60% em (unidade de) terapia intensiva, 25% em ventilação mecânica. O que estamos vendo é uma tendência de redução na velocidade de crescimento do número de internações em São Paulo. No Rio, isso ainda não acontece. No Nordeste, o movimento é de crescimento — destaca Reis, que participou ao lado de Zeballos de uma live realizada nesta terça-feira pela Genial Investimentos.

Para ele, essa possível desaceleração no número de pessoas que precisam ser internadas para tratar a Covid-19 não significa que São Paulo tenha chegado ao pico da doença.

— Eu não falaria em momento de pico (do coronavírus) em São Paulo, mas em um platô, onde teremos como manusear os pacientes no longo prazo. Ainda não temos o aprendizado sobre o comportamento climático do vírus. Se ele for mais contagioso no frio, São Paulo pode estar entrando num momento de desfavor porque está esfriando. Também não sabemos o que virá quando o isolamento acabar, se haverá um repique imenso (de casos) — ponderou Reis.

A falta de testes para fazer o exame de Covid-19 em grande parte da população, afirmam os dois especialistas, é real. Reis explica que por recomendação do Ministério da Saúde só são testadas as pessoas em estado sintomático e, dentre elas, as com sintomas graves, de preferência candidatas à internação:

— Tem sido feito isso no sistema público e em grande parte do privado — conta Reis.

Em meio a estudos sobre o uso da cloroquina e outras opções de substâncias no tratamento da infecção viral causada pelo novo coronavírus, Zeballos defende um outro caminho: o uso de corticoide.

— Tive sete casos graves (de Covid-19), de 22 que atendi, todos indo para intubação e que evoluíram bem com o uso de corticoide. Desde o primeiro caso, observei uma melhora incrível, com regressão das lesões no pulmão em sete dias. O que atrapalha e põe em risco a vida dos pacientes é a resposta inflamatória gerada pelo contato do vírus com o sistema imunológico, daí a importância de tratar a inflamação — diz o imunologista.

Ele destaca que a hipótese é reforçada por relatos de que as pessoas transplantadas, que fazem uso de imunossupressores, consideradas inicialmente mais vulneráveis ao Covid-19, têm apresentados casos mais brandos quando adoecem.

— É como quando se tem de entender por que as crianças não desenvolvem a doença. Talvez seja porque o sistema imunológico delas ainda não foi tão estimulado, está em desenvolvimento — avalia ele.

Os casos não são suficientes para convencer a comunidade científica, reconhece Zeballos, mas são relevantes para iniciar estudo de avaliação científica do tratamento. Ele vem conversando com outros especialistas, como o pneumologista Marcelo Amato e outros de centros de referência como a Universidade de John Hopkins, nos Estados Unidos.

Tanto Zeballos quanto Reis entendem que as medidas de isolamento social precisarão ser avaliadas por regiões ou pequenas localidades do país, considerando que o Brasil tem dimensões continentais. As decisões devem ser tomadas monitorando sempre a evolução da epidemia do novo coronavírus.

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