Ciência

Edição de genes danifica o DNA mais do que se pensava, diz estudo

Experimentos usando células de camundongo e humanas revelaram que a técnica CRISPR-Cas9 causou "frequentemente" mutações genéticas "extensas"

DNA: técnica de edição de genes é saudada como o futuro da erradicação de doenças (Thinkstock/Reprodução)

DNA: técnica de edição de genes é saudada como o futuro da erradicação de doenças (Thinkstock/Reprodução)

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AFP

Publicado em 16 de julho de 2018 às 18h47.

Última atualização em 18 de julho de 2018 às 14h55.

Uma técnica revolucionária de edição de genes saudada como o futuro da erradicação de doenças e considerada para um prêmio Nobel pode ser menos precisa e causar mais danos às células do que se pensava anteriormente, disseram pesquisadores nesta segunda-feira.

Experimentos de laboratório usando células de camundongo e humanas revelaram que a técnica CRISPR-Cas9 causou "frequentemente" mutações genéticas "extensas", relataram os pesquisadores.

"Esta é a primeira avaliação sistemática de eventos inesperados resultantes da edição CRISPR-Cas9", disse Allan Bradley, do Instituto Wellcome Sanger, na Inglaterra, onde a equipe realiza pesquisas.

A pesquisa mostrou que "mudanças no DNA foram seriamente subestimadas antes", disse Bradley, coautor do estudo publicado na revista científica Nature Biotechnology.

As mutações não se mostraram prejudiciais nem benignas.

"É importante que qualquer um que esteja pensando em usar essa tecnologia para a terapia genética proceda com cautela e procure cuidadosamente verificar os efeitos prejudiciais", disse Bradley em um comunicado divulgado pelo instituto.

Apresentada pela primeira vez há cerca de seis anos, a CRISPR-Cas9 permite aos cientistas inserir, remover e corrigir uma sequência defeituosa numa cadeia de DNA de uma célula com precisão.

Isso aumentou as esperanças de que um dia os genes causadores de doenças poderiam ser removidos ou alterados antes mesmo de o bebê nascer.

Nos últimos anos, a CRISPR-Cas9 foi repetidamente cotada para ganhar o prêmio Nobel de química.

As CRISPRs - Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas - são parte do sistema de defesa imunológica em bactérias, usadas para identificar o local exato no genoma onde o corte deve ser feito.

A Cas9 é uma proteína usada como "tesoura" para cortar o gene defeituoso, que é então substituído ou fixado pelo mecanismo de reparo de DNA da própria célula.

"Implicações de segurança"

A técnica, cuja segurança ainda não foi comprovada, não está aprovada para uso em humanos.

Até agora, os pesquisadores a usaram para melhorar a audição em camundongos que estavam ficando surdos e para consertar uma mutação causadora de doenças em embriões humanos clonados em estágio inicial.

Mas a nova descoberta gera "implicações de segurança", disse a equipe.

Eles encontraram "grandes rearranjos genéticos, como supressões e inserções de DNA" nas células, o que poderia levar a genes importantes sendo ativados ou desativados, causando mudanças perigosas.

A pesquisa também mostrou que os testes padrão não detectam danos ao DNA causados ​​por CRISPR-Cas9.

Especialistas não envolvidos no estudo disseram que não está claro como essas mudanças grandes e não intencionais não foram percebidas antes.

Mas "os resultados não dão motivo para pânico ou para perder a fé nos métodos quando são realizados por aqueles que sabem o que estão fazendo", disse Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick, um centro de pesquisa biomédica em Londres.

Para Francesca Forzano, consultora em genética clínica do Guy's e St Thomas' NHS Foundation Trust, o trabalho mostrou que a CRISPR-Cas9 "é muito menos segura do que se pensava anteriormente" e que as técnicas de monitoramento de segurança "não eram totalmente adequadas".

Mais pesquisas são necessárias antes que qualquer aplicação clínica do método seja considerada, disse Forzano.

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