Albert Bourla, CEO da Pfizer: as ambições da farmacêutica são apenas uma forma pela qual a pandemia está prestes a mudar para sempre o setor de saúde. (Steven Ferdman/Getty Images)
Thiago Lavado
Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 19h10.
Última atualização em 29 de janeiro de 2021 às 19h56.
O CEO da Pfizer, Albert Bourla, afirmou durante evento digital do Fórum Econômico Mundial de Davos que há "alta possibilidade" de que as vacinas atuais desenvolvidas contra a covid-19 se tornem ineficazes no futuro.
"É alta a possibilidade de que isso um dia aconteça", disse, enfatizando que é algo que ainda não aconteceu, durante um painel que discutiu a necessidade de colaboração entre governos e empresas para lidar com a atual pandemia e futuras ameaças à saúde da humanidade.
Bourla afirmou ainda que a companhia está estudando o desenvolvimento acelerado de novas fórmulas, permitindo que o processo de produção de um novo imunizante possa ser feito em 100 dias ou menos — uma marca ainda mais impressionante do que os 300 dias de desenvolvimento do ano passado.
Sendo um vírus, o SARS-CoV-2 sofre mutações de maneira mais rápida e propicia o surgimento de diferentes cepas e variantes. Algumas ganharam holofotes recentemente, como as que surgiram na África do Sul, no Reino Unido e no Brasil, em Manaus.
Apesar da preocupação com algumas cepas, que têm se mostrado mais infecciosas, o processo de mutação de um vírus é comum e até o momento nenhuma delas escapou das vacinas aprovadas.
Nesta semana, a própria Pfizer e a companhia alemã BioNTech divulgaram um estudo que mostra que a vacina desenvolvidas por elas contra o novo coronavírus funciona também contra a variante B.1.1.7., encontrada no Reino Unido no final do ano passado.
Os autores do estudo afirmaram que a evolução contínua do SARS-CoV-2 torna o monitoramento frequente necessário das vacinas autorizadas até o momento, com o objetivo de atualizá-las caso elas não sejam eficazes contra uma variante específica.
Apesar disso, essa é uma incerteza no longo prazo. Para os cientistas, é possível que as vacinas precisarão ser atualizadas no futuro, de maneira semelhante ao que acontece com a vacina contra a gripe, por exemplo.
“Acredito que o número de mutações que acumulamos nesse período curto de tempo mostra que é bastante racional assumir que, com um certo período de tempo — pode ser um ano, dois anos —, as vacinas atuais, todas elas, vão perder sua atividade. Elas não ficarão inativas do dia para a noite, mas vão perder gradualmente”, disse Mikael Dolsten, chefe da área de ciência da Pfizer.
Apesar disso, Dolsten defende que a Pfizer conseguirá se adaptar rapidamente às mutações, atualizando a vacina conforme necessário. Em média, uma nova versão da vacina deve demorar cerca de duas semanas para ser criada. Os testes em humanos, caso sejam obrigatórios nesse caso, podem demorar “alguns meses”.
Para lidar com as novas variantes de forma mais rápida, Dolsten acredita que as agências reguladoras terão de permitir as atualizações nas vacinas somente com dados de testes pré-clínicos, “como fazem com as vacinas da gripe”, e sem testes em humanos.