Ciência

É possível diminuir a produção do gás metano nos bovinos?

Suplemento desenvolvido após dez anos de pesquisa começa a ser misturado à ração do gado da JBS. Expectativa é que o produto reduza em até 90% as emissões entéricas de metano

Suplemento nutricional que começa a ser usado pela JBS tem potencial para reduzir em até 90% as emissões entéricas de metano. (Helder Faria/Getty Images)

Suplemento nutricional que começa a ser usado pela JBS tem potencial para reduzir em até 90% as emissões entéricas de metano. (Helder Faria/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2022 às 09h00.

Entre os gases causadores de efeito estufa, o metano, emitido principalmente pelo gado, é o segundo maior causador das mudanças climáticas depois do dióxido de carbono.

Dados apresentados pelo Fórum Econômico Mundial mostram que cerca de 70% do metano agrícola vem da fermentação entérica – reações químicas nos estômagos de vacas e outros animais de pasto à medida que eles digerem as plantas. Os animais expelem a maior parte desse metano pela boca e por meio da flatulência.

Existem cerca de 1 bilhão de cabeças de gado em todo o mundo, e reduzir o metano entérico é uma maneira eficaz de diminuir as emissões gerais de metano.

Com a sustentabilidade como um de seus pilares estratégicos, a JBS segunda maior companhia de alimentos do mundo e líder em proteína, firmou uma parceria com a Royal DSM, empresa global de saúde, nutrição e biociência, a fim de reduzir a emissão de metano entérico bovino em escala mundial.

Para isso, a JBS vai utilizar um suplemento nutricional desenvolvido pela DSM que será adicionado à alimentação dos animais.

O produto, chamado de Bovaer, tem potencial para reduzir em até 90% as emissões entéricas de metano, como comprovado recentemente em um estudo australiano de confinamento de carne bovina.

Um quarto de colher de chá do aditivo ao dia, por animal, inibe a enzima que ativa a produção do gás metano no estômago do ruminante. Segundo a DSM, o efeito é imediato e, se o uso for interrompido, a emissão de gases é retomada integralmente.

Dez anos de pesquisas

O desenvolvimento do Bovaer levou mais de dez anos. Foram 45 testes de longa duração em fazendas de 13 países, localizados em quatro continentes, que resultaram em mais de 48 estudos publicados em revistas científicas independentes.

No início de setembro de 2021, o Brasil foi o primeiro mercado a conceder a aprovação regulatória total para o Bovaer. “Estamos desenvolvendo um grande plano de ação para a redução de toda a pegada de carbono da JBS, e essa parceria com a DSM vai contribuir não só com nossos planos, mas com todo o setor nesta complexa questão das emissões de metano”, disse em nota Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS.

Inicialmente, o suplemento nutricional será fornecido para bovinos confinados. Depois, os testes serão expandidos para um segundo mercado, que pode ser a Austrália ou os Estados Unidos, duas das maiores operações da JBS no mundo.

Um outro estudo, de 2015, sugeriu que o uso de algas marinhas como aditivo à alimentação normal do gado poderia reduzir a produção de metano, mas essa pesquisa foi feita em laboratório, não em animais vivos. Essa descoberta, portanto, ainda precisa ser ampliada para se tornar passível de comercialização.

 

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