Mulher usando a máscara N95, que é análogo ao padrão PFF2 no Brasil (Roman Lukiw Photography/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 8 de março de 2022 às 16h57.
Última atualização em 8 de março de 2022 às 17h24.
Prestes a completar dois anos de pandemia e chegando ao fim da onda da variante ômicron, o Brasil pode em breve liberar o uso de máscaras. O estado do Rio de Janeiro decretou que a partir desta terça-feira, 8, a medida não será mais obrigatória, enquanto São Paulo suspendeu o uso somente em locais abertos.
Mas, será que é o momento de parar de usar o item mais essencial no combate ao coronavírus? Ainda em 2020, estudos já indicavam que o uso obrigatório de máscaras diminuía drasticamente o número de casos — uma pesquisa na Alemanha, por exemplo, mostrou uma redução de 47%.
Como o vírus da pandemia é transmitido pelo ar e principalmente a curtas distâncias, proteger a boca e o nariz em lugares fechados pode ser o diferencial para evitar mais um aumento nos casos. O próprio secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse em entrevista exclusiva à EXAME no fim de fevereiro que é preciso muita responsabilidade antes de adotar a medida. “Estamos avaliando bem os números, para que no momento oportuno tomemos esta decisão, sem a necessidade de recuo.”
No Brasil, a média diária de mortes vem caindo desde a semana passada — reflexo do fim da onda da ômicron, que impactou países do mundo inteiro no início deste ano — e o balanço desta segunda-feira, 7, mostrou uma média móvel de 430, ante 455 na semana anterior.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), junto com o Instituto FSB Pesquisa, feita em dezembro, mostra que os brasileiros estão totalmente divididos em relação ao uso de máscaras no futuro: 36% afirmam que vão usar máscaras apenas em algumas situações, 35% falam que vão continuar a usar máscaras mesmo que não seja obrigatório e 28% dizem que vão deixar de usar máscaras quando não for mais obrigatório.
Na avaliação de Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto Emílio Ribas, não é cedo para liberar a máscara em ambientes abertos, considerando que seja em regiões onde o número de casos está em queda, como os municípios de SP e RJ. No Brasil como um todo o assunto fica mais complexo, já que cada estado tem situações epidemiológicas diferentes.
Porém, a baixa porcentagem de crianças com a segunda dose, além de outros fatores, indicam que não é o momento ideal para deixar de usar o item em espaços fechados, como decretou o Rio de Janeiro. “Precisamos manter a vigilância e observar o que vai acontecer daqui para a frente”, avalia a infectologista.
Nos Estados Unidos, houve uma flexibilização do uso de máscaras no primeiro semestre de 2021 para os vacinados, mas o surgimento da variante delta logo fez o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) voltar atrás. Agora, cerca de oito meses depois, a agência de saúde americana anunciou que 90% da população do país mora em locais com baixos ou médios níveis de covid-19 e, portanto, não precisa usar máscaras em lugares fechados.
Já países da Europa como França, Espanha, Dinamarca e Reino Unido anunciaram recentemente que iriam tratar a covid-19 como uma endemia, e não uma pandemia. Consequentemente, a obrigatoriedade do uso de máscaras cai nestes territórios, além de outras medidas antes consideradas essenciais.
As decisões de outros países não são necessariamente o caminho certo a seguir, já que existem inúmeras variáveis que podem mudar o curso do vírus da pandemia novamente (como a baixa vacinação no continente da África), mas elas refletem o período no qual o mundo se encontra atualmente. Muitos especialistas já se posicionaram sobre o fato que o coronavírus nunca será extinto e que um dia será encarado como uma gripe e que os países devem aprender a viver com a covid-19.
Novas vacinas, remédios como o Paxlovid e grande parte dos territórios com taxas de vacinação acima de 70% indicam que a população pode ficar mais tranquila, mas não usar máscaras em locais fechados é definitivamente um risco. Resta saber se a medida aplicada em estados como o do Rio terá algum impacto no número de casos e mortes.