Ciência

Dois terços dos maiores rios do mundo estão obstruídos pelo homem

Pesquisa mostra que obras de infraestrutura ameaçam ecossistemas e comunidades que dependem dos rios para sobreviver

Apenas 37% dos 246 rios que superam 1.000 km ainda são de "corrente livre" (Vagner Campos/A2 Fotografia/Fotos Públicas)

Apenas 37% dos 246 rios que superam 1.000 km ainda são de "corrente livre" (Vagner Campos/A2 Fotografia/Fotos Públicas)

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AFP

Publicado em 9 de maio de 2019 às 11h33.

Quase dois terços dos maiores rios do mundo estão obstruídos por represas e outras infraestruturas, o que ameaça os ecossistemas e as comunidades que dependem dos mesmos, afirma um estudo que também questiona a hidreletricidade como alternativa às energias fósseis.

Uma equipe internacional de cientistas examinou quase 12 milhões de quilômetros de rios no mundo e criou a primeira cartografia mundial do impacto das construções humanas nestes canais.

O estudo publicado esta semana pela revista Nature conclui que apenas 37% dos 246 rios que superam 1.000 km ainda são de "corrente livre", ou seja, sem obstáculos, e apenas 21 deles correm de forma ininterrupta de sua fonte até o mar.

A maioria dos canais "selvagens" fica principalmente em regiões muito isoladas, como o Ártico, a Amazônia e a Bacia do Congo.

"Mas os rios de corrente livre são tão importantes para os homens como para o meio ambiente", afirmou Günther Grill, da universidade canadense McGill.

Estes ecossistemas e os peixes que habitam neles são, de fato, cruciais para a segurança alimentar de centenas de milhões de pessoas, pois formam uma proteção contra as inundações e aportam os sedimentos aos grandes deltas.

Os cientistas atribuem o problema às estradas nas várzeas, às reservas de água, mas especialmente às represas hidrelétricas.

Atualmente, existem 2,8 milhões de represas no mundo, das quais 60.000 de pelo menos 15 metros de altura, segundo o estudo. Mais de 3.700 estão em construção ou na fase do projeto.

Os autores apontam em particular a situação do delta do Mekong.

"Nesta bacia, mais de 60% da população depende da pesca e a cada ano são capturados mais de um milhão de toneladas de peixes", explica à AFP Bernhard Lehner, também professor em McGill.

"Há muitas represas previstas no Mekong, provavelmente terão um impacto negativo sobre muitas espécies de peixes", completou.

Em um mundo já submetido aos impactos da mudança climática, os cientistas fazem perguntas sobre o desenvolvimento desta energia mais limpa que o petróleo e o carvão em termos de emissões de gases que provocam o efeito estufa.

"A energia hidrelétrica inevitavelmente tem um papel a desempenhar na revolução das energias renováveis. Mas devemos repensar algumas coisas", afirmou à AFP Michele Thieme, da ONG WWF, que também participou no estudo.

"As energias renováveis são como uma receita: você precisa encontrar as proporções adequadas para ter, ao mesmo tempo, uma rede de energia sustentável e um mundo natural próspero", completou.

Para Thieme, as energias solar e eólica "bem planejadas podem ser opções mais viáveis para os rios" e para as pessoas que dependem deles.

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