Cérebro: doença causada por proteína infecciosa ainda não tem tratamento ou cura conhecidos por cientistas (iLexx/Getty Images)
Lucas Agrela
Publicado em 24 de outubro de 2020 às 13h54.
Última atualização em 26 de outubro de 2020 às 07h45.
Uma doença considerada rara que corrói o cérebro de seres humanos tem avançado no Japão. Pesquisadores reportaram em um estudo publicado no periódico científico Scientific Reports um aumento de casos da doença de Creutzfeldt-Jakob, uma condição cerebral degenerativa que leva a demência e morte. No período estudado, de 2005 a 2014, a taxa anual de crescimento da doença rara foi de cerca de 6,4%.
Diferentemente da covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), a doença cerebral em ascensão no Japão é causada por um príon, que é uma proteína infecciosa capaz de corromper e afetar proteínas comuns, causando modificações que prejudicam a saúde do ser humano. A palavra “príon” é uma abreviação para partículas infecciosas proteicas com ausência de ácidos nucléicos, ou seja, diferentemente dos vírus, essa proteína aberrante não possui DNA ou RNA.
A doença de Creutzfeldt-Jakob não possui tratamento, pode ser letal e causa sintomas como problemas de memória, mudanças comportamentais, depressão, problemas visuais e falta de coordenação motora. Outro desafio no combate à doença é que o príon causador da condição não pode ser inativado por procedimentos conhecidos de esterilização.
“Apesar de ser uma doença rara, o fenômeno do envelhecimento da população pode desencadear um aumento na sua incidência e, portanto, no ônus socioeconômico e de saúde da doença de Creutzfeldt-Jakob. Nosso objetivo foi analisar essas tendências, em um esforço para espalhar a consciência e estimular novas estratégias de tratamento ", disse Yoshito Nishimura, autor do estudo, em comunicado. "A doença de Creutzfeldt-Jakob, embora rara, será mais prevalente nos próximos 5 a 10 anos.”
Casos da doença cerebral já foram reportados entre grupos que praticam canibalismo. Mas o dos príons risco não é apenas esse. Nas décadas de 1980 e 1990, uma variante da doença de Creutzfeldt-Jakob causou 175 infecções no Reino Unido, depois que as vítimas comeram carne bovina infectada. A condição ficou conhecida como “doença da vaca louca” e pesquisadores acreditam que sua disseminação tenha ocorrido após o gado ter sido alimentado com carne e ossos com tecido cerebral infectada. Com o tempo da ciência desalinhado da expectativa do grande público e uma tendência de envelhecimento populacional de nível global, se a pesquisa sobre a doença não avançar, ela pode se tornar um caso de saúde pública em um futuro não muito distante.