Ciência

Devemos vacinar crianças? Debate cresce com avanço da imunização

Em muitos países e continentes, a imunidade coletiva dependerá da inclusão de crianças e adolescentes nos programas de vacinação

Vacinação: cientistas debatem a necessidade de imunizar crianças para atingir níveis de imunidade maiores (Jon Cherry/Getty Images)

Vacinação: cientistas debatem a necessidade de imunizar crianças para atingir níveis de imunidade maiores (Jon Cherry/Getty Images)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 8 de maio de 2021 às 07h00.

Com 1 bilhão de doses de vacinas contra a covid-19 administradas mundo afora, o debate nas nações em que a imunização está mais avançada se volta para crianças e adolescentes. A questão é se essa parcela da população deve também entrar nos programas de vacinação.

Diversos fabricantes já anunciaram que começaram a testar seus fármacos nos mais jovens. Em março, a farmacêutica Moderna começou estudos para aferir a eficácia em crianças entre 6 meses e 11 anos, nos Estados Unidos e Canadá. A Pfizer trouxe 2.000 adolescentes de 12 a 15 anos para um teste que começou em outubro e deve iniciar novas etapas em crianças de 5 a 11 anos. Em fevereiro, a Universidade de Oxford, que colaborou no desenvolvimento da vacina da AstraZeneca, também disse que iria começar testes semelhantes.

Apesar disso, com parcela grande do mundo precisando de imunização e com o baixo risco de letalidade da doença para crianças, esse é um debate que intriga cientistas e líderes políticos.

Nos Estados Unidos, desde que a pandemia começou, 332 pessoas com menos de 18 anos morreram de covid-19, de um total que já ultrapassa os 560.000. No Reino Unido, de um total de 130.000 mortes, apenas 37 tinham menos de 20 anos.

Para muitos cientistas, a imunização de crianças e adolescentes não cumpre o papel de proteger essas pessoas, mas sim os adultos com quem elas convivem diariamente. Vacinar essa parcela da população, especialmente as que têm mais de 12 anos, é um dos argumentos da atual discussão alcançar a imunidade de rebanho, que reduziria a taxa de transmissão do coronavírus a um R menor que 1. Ou seja, a doença infectaria cada vez menos pessoas e se tornaria uma preocupação menor.

"Não se pode deixar bolsões de população não vacinada ou pouco imunizada se quisermos atingir uma imunidade coletiva que seja rápida e sustentável", disse ao jornal Financial Times, Inci Yildirim, pediatra especialista em doenças infecciosas na Universidade Yale. Ela adicionou que é preciso lembrar que as crianças também adquirem a doença e podem desenvolver casos graves e carregar as consequências disso.

No outro prato da balança, pende a dificuldade de vacinar os demais países do mundo. Em regiões mais pobres e pouco desenvolvidas, a vacinação ainda engatinha, se comparada aos já citados Reino Unido e Estados Unidos.

Se nos EUA já foram administradas 250 milhões de doses até o momento, todo o continente da África, em comparação, recebeu 32 milhões de doses. A região tem 1,2 bilhão de habitantes em 54 países que, até o momento, só aplicaram 18 milhões desse total de doses. Apesar da necessidade de vacinar os adultos, a África terá, com uma mediana de idade de 19 anos dentre a população, de vacinar crianças também para atingir a imunidade de rebanho.

A Índia, uma das principais fabricantes de vacinas do mundo, luta para imunizar sua população em meio à alta no número de casos dentro do país e por causa disso também diminui a quantidade de vacinas que consegue distribuir globalmente.

O fato de que o sistema imunológico de crianças seja distinto daquele dos adultos, só agrava a situação e a necessidade de testes rigorosos para os pequenos. Esses estudos e a preparação são necessários, já que muitos acreditam que a imunidade global e o combate ao vírus que deixou o mundo de joelhos só será possível sem deixar parcelas vulneráveis à possibilidade de desenvolvimento de novas cepas e variantes.

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