Ciência

Crise climática pode impactar vida sexual dos insetos, diz estudo

Cores de algumas espécies, ao longo das décadas, foi desbotando e levantando questões sobre o papel do clima

Mecanismo da pesquisa ainda é confuso mesmo para cientistas que participaram do estudo (Stephen Darlington / BWPA)

Mecanismo da pesquisa ainda é confuso mesmo para cientistas que participaram do estudo (Stephen Darlington / BWPA)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 15 de julho de 2024 às 13h55.

No frio, um inseto com o corpo mais escuro é melhor para capturar um parceiro sexual do que um "rival" com estrutura brilhante. Os machos mais escuros podem se aquecer mais facilmente no início da manhã e, portanto, conseguem mais tempo para o acasalamento enquanto os outros ainda estão se aquecendo.

Esse é um dos muitos exemplos de como a temperatura afeta a coloração dos insetos e, por sua vez, pode afetar a sua capacidade de acasalar, de acordo com um novo artigo de revisão publicado na revista Ecology and Evolution e divulgado pelo Guardian.

Os cientistas ainda tentam descobrir o que acontecerá à vida sexual dos insetos, agora que o colapso climático produzido pelo homem aumenta as temperaturas para níveis sem precedentes.

“Por um lado, poderíamos estar nos alegrando, dizendo: como estão os insetos? Eles estão respondendo às mudanças climáticas. Não precisamos nos preocupar com eles”, disse Mariella Herberstein, ecologista comportamental da Universidade Macquarie em Sydney, Austrália, que é uma das autoras do estudo.

A teoria predominante entre os cientistas, diz Herberstein, é que quando as temperaturas aumentam, os insetos evoluem em grande parte para produzir menos pigmento que regula a sua tonalidade, tornando-se mais claros e brilhantes. Isso ocorre porque os objetos mais escuros absorvem mais calor e aquecem mais rapidamente, enquanto os objetos mais claros refletem mais radiação e podem permanecer mais frios por mais tempo.

Por exemplo, as cores das asas de algumas borboletas das montanhas norte-americanas foram desbotando ao longo do tempo à medida que as temperaturas aumentaram – as asas amarelo-enxofre cintilantes tornaram-se mais pálidas, de acordo com um estudo de 2016.

Entre as décadas de 1980 e 2000, tornou-se cada vez menos provável que a joaninha de duas pintas fosse preta com manchas vermelhas em vez de vermelha com manchas pretas.

Mas a equipe de Herberstein descobriu que o padrão nem sempre é tão simples. Um estudo de acompanhamento sobre as borboletas Meadii, que analisou mais de 800 animais coletados para amostras de museus entre 1953 e 2013, descobriu que, em algumas áreas, suas asas amarelas ficaram com cores mais ricas e mais escuras ao longo do tempo.

“O mecanismo não é tão claro – é confuso”, disse outro dos autores do estudo, Tonmoy Haque, doutorando na Universidade Macquarie. Isto pode acontecer porque os pesquisadores estão trabalhando com um conjunto limitado de dados provêm de estudos semelhantes com insetos parecidos, diz ele. Provavelmente também porque a melanina não tem apenas uma função relacionada com o calor, mas está envolvida nas defesas imunológicas e ajuda a proteger contra a radiação ultravioleta do sol.

Resolver este enigma pode desempenhar um papel crucial na descoberta exata de como os insetos poderão resistir ao colapso climático, disse Michael Moore, biólogo integrativo da Universidade do Colorado. Moore não esteve envolvido na pesquisa mais recente, mas em 2021 descobriu que os machos das libélulas estavam perdendo os padrões de cores das asas onde o clima é mais quente, e está tentando estabelecer se isso torna mais difícil para essa espécie encontrar seus parceiros.

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