Ciência

Creme para pele pode evitar doenças como dengue e zika, diz estudo

Creme para pele desenvolvido por cientistas do Reino Unido pode evitar proliferação de vírus responsáveis por doenças como dengue, zika e chikungunya

Tratamentos para doenças: creme para pele que contém imiquimode pode evitar proliferação de vírus transmitidos por mosquitos (Marvin Recinos / AFP/AFP)

Tratamentos para doenças: creme para pele que contém imiquimode pode evitar proliferação de vírus transmitidos por mosquitos (Marvin Recinos / AFP/AFP)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 26 de janeiro de 2020 às 09h00.

Última atualização em 21 de fevereiro de 2020 às 07h29.

São Paulo - Cientistas da Universidade de Leeds, no Reino Unido, podem ter encontrado uma forma de tratar doenças disseminadas por mosquitos, como zika, dengue e chikungunya. Segundo a pesquisa, o creme para pele composto por imiquimode - substância ativa geralmente usada em medicamentos que destroem células malignas - impede que o vírus se espalhe pelo corpo do usuário.

O creme, que também contém um tipo de célula imunológica, foi testado em amostras de pele disponibilizadas por 16 voluntários. Os cientistas dividiram as amostras em duas partes, e injetaram os vírus zika - responsável por causar defeitos congênitos em recém-nascidos - e chikungunya - responsável por causar artrite em articulações - em uma das partes de cada amostra. Feito isso, eles aplicaram o creme apenas em uma das partes, deixando a outra parte infectada sem tratamento, para comparar os dois tecidos.

Depois de um tempo, eles perceberam que a amostra de pele infectada com chikungunya que não recebeu o creme apresentava 600 vezes mais vírus do que a pele com o creme. No caso das amostras infectadas com o vírus zika, a pele sem o tratamento tinha 60 vezes mais vírus do que a pele que recebeu o creme. Nos dois casos, o tecido que recebeu o creme como tratamento não liberou nenhum vírus infeccioso para a pele, ou seja, não houve proliferação do vírus nas amostras tratadas.

Clive McKimmie, pesquisador e principal autor do artigo, acredita que tratamentos para doenças causadas por mosquitos devem ser tratados com urgência, visto que os hospedeiros do vírus estão se reproduzindo cada vez mais: "Os mosquitos estão expandindo seu alcance em todo o mundo à medida que o planeta fica mais quente devido à emergência climática, portanto o impacto na saúde das doenças transmitidas por mosquitos provavelmente aumentará no futuro. Se essa estratégia puder ser desenvolvida como uma opção de tratamento, poderemos usá-la para combater uma ampla gama de doenças novas e emergentes", escreve McKimmie, no estudo.

O Ministério da Saúde alertou que, em 2020, é possível que onze estados do Brasil tenham surto de dengue - entre eles, todos os estados do Nordeste, o Rio de Janeiro e o Espírito Santo -. Os autores do estudo alertam que os tratamentos são necessários, visto que a resposta autoimune gerada pelo tecido humano não é o suficiente para frear a reprodução dos vírus na pele.

No entanto, os pesquisadores alertam que os consumidores ainda não devem aplicar o creme em suas próprias picadas - mais pesquisas são necessárias para testar a eficácia do creme, de acordo com Kave Shams, coautor e consultor de dermatologia da Universidade de Leeds. "Esperamos que um dia essa descoberta possa ajudar um grande número de pessoas a evitar doenças. Se pudermos redirecionar esse creme para uma opção de tratamento antiviral, pode ser uma adição útil ao repelente de mosquitos, como forma de evitar a infecção", concluiu Shams, em comentário na pesquisa.

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