Ciência

CoronaVac é segura e cria anticorpos em 97% dos voluntários, diz estudo

Descobertas, que foram publicadas na The Lancet, são dos testes clínicos em Fases 1 e 2 realizados na China com 700 voluntários

CoronaVac: vacina está sendo testada em fase três no Brasil (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

CoronaVac: vacina está sendo testada em fase três no Brasil (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 17 de novembro de 2020 às 20h46.

Última atualização em 18 de novembro de 2020 às 08h17.

Em um estudo revisado por pares publicado nesta terça-feira, 17, na prestigiada revista The Lancet, foi apontado que a CoronaVac, vacina contra o coronavírus que está sendo desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e testada no Brasil em parceria com o governo de São Paulo e o Instituto Butantan, é segura e foi capaz de criar anticorpos em 97% de 700 voluntários que participaram da fase de testes 1 e 2 na China.

Os resultados divulgados foram de fase um e dois e não tinham por objetivo determinar a eficácia da vacina, mas, segundo os pesquisadores, pode indicar que ela "fornece proteção suficiente", com base em outras vacinas já testadas e em estudos pré-clínicos realizados em macacos.

"Nossas descobertas mostram que a CoronaVac é capaz de induzir uma rápida resposta de anticorpos em quatro semanas da imunização ao dar duas doses da vacina em um intervalo de 14 dias", disse Zhu Fengcai, um dos autores do artigo.

A CoronaVac tem como base o próprio vírus inativado criado em uma cultura dentro de um laboratório para ser aplicados nos pacientes. Conhecida como “vacina chinesa”, ela estimula a produção de anticorpos pelo corpo humano, o que ajuda a prevenir os sintomas graves da covid-19, que podem levar à morte.

Com a formação desses anticorpos, o organismo pode combater a doença de forma mais eficiente, sem causar grandes danos à saúde. A expectativa da companhia é produzir até 100 milhões de doses anuais da vacina.

Cerca de 13 mil voluntários estão sendo testados no Brasil. Na semana passada, o Instituto Butantan anunciou que começou as obras necessárias para a fabricação de cerca de 1 milhão de doses diárias da CoronaVac no Brasil. A obra deverá ser concluída somente no final do ano que vem. Outras 6 milhões de doses virão prontas da China.

Para Zhu, a descoberta indica que a vacina é a "adequada para o uso emergencial durante a pandemia". Os resultados de fase três devem ser divulgados em breve e "serão cruciais para determinar se a resposta imune é suficiente para proteger as pessoas da infecção pela covid-19", segundo os pesquisadores.

Recentemente, a vacina esteve no centro das discussões na semana passada, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) parou os testes após a morte de um dos voluntários. A Secretária de Segurança Pública do Estado de São Paulo afirmou, à época, que o caso estava sendo investigado como suicídio — e não tinha correlação alguma com a imunização.

Como estamos?

Das 48 em fases de testes, apenas 11 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. São elas a chinesa da Sinovac Biotech, a também chinesa da Sinopharm, a britânica de Oxford em parceria com a AstraZeneca, a americana da Moderna, da Pfizer e BioNTech, a russa do Instituto Gamaleya, a chinesa CanSino, a americana Janssen Pharmaceutical Companies, a indiana dos laboratórios Bharat Biotech e a também americana Novavax.

Quem terá prioridade para tomar a vacina?

Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.

Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.

Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.

A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.

Quão eficaz uma vacina precisa ser?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.

Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.

Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.

As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.

Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.

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