Ciência

Coquetel de antidepressivos na água ameaça vida marinha

Cientistas detectaram acúmulo de antidepressivos humanos nos cérebros de peixes nos Grandes Lagos, nos EUA, um problema que tem crescido no mundo

 (Moodboard/Thinkstock)

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Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 4 de setembro de 2017 às 14h00.

Última atualização em 4 de setembro de 2017 às 14h21.

São Paulo - O consumo crescente de antidepressivos tem um efeito colateral preocupante no meio ambiente: a maior exposição de animais marinhos ao acúmulo dessas substâncias químicas nas águas dos rios.

Em um novo estudo, publicado na revista científica Environmental Science and Technology, pesquisadores americanos detectaram altas concentrações de resíduos desses medicamentos no cérebro de 10 espécies de peixes encontradas nos Grandes Lagos, nos Estados Unidos.

A presença de antidepressivos na vida aquática levanta graves preocupações ambientais. Segundo os cientistas, os resíduos de antidepressivos podem alterar genes responsáveis pela construção do cérebro dos peixes e mudar seu comportamento.

Eles podem se tornar mais ansiosos, antissociais, agressivos e, por vezes, até mesmo homicidas. Os antidepressivos podem, ainda, afetar o comportamento alimentar dos peixes ou seus instintos de sobrevivência, como a capacidade de responder à presença de predadores.

Para os cientistas, mudanças como essas têm o potencial de interromper o delicado equilíbrio entre as espécies que ajudam a manter o ecossistema estável.

Atraso no tratamento de esgoto

Todos os dias, milhares de litros de remédios e hormônios eliminados pelo organismo humano seguem para o esgoto. Porém, as estações de
tratamento de águas residuais ainda não removem eficazmente essas substâncias da água.

"Em geral, o tratamento de águas residuais concentra-se em matar bactérias causadoras de doenças e extrair matéria sólida, como excremento
humano. Os antidepressivos, que são encontrados na urina das pessoas, são amplamente ignorados, juntamente com outros produtos químicos que se tornaram comuns", diz em comunicado a principal autora do estudo, Diana Aga, professora de química na Universidade Buffalo College of Arts and Sciences.

Segundo a cientista, os sistemas de tratamento estão focados na remoção de substâncias como nitrogênio e fósforo, mas existem muitos outros produtos químicos que não são priorizados e que afetam o meio ambiente, a exemplo dos antidepressivos. "Como resultado, a vida selvagem é exposta a todos esses produtos químicos. Os peixes estão expostos a um coquetel de drogas 24 horas por dia, e agora encontramos essas drogas em seus cérebros", alerta.

Os antidepressivos são os medicamentos mais comumente prescritos nos Estados Unidos. A porcentagem de americanos que tomam antidepressivos
aumentou 65 por cento entre 2002 e 2014, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde daquele país.

Apesar do efeito na vida marinha, os cientistas dizem que os níveis encontrados na água potável são baixos demais para causar danos aos seres humanos, principalmente se a cabeça do peixe não for consumida.

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