Ciência

Consumo de álcool aumenta propensão a vício em cocaína

Depois de consumir álcool durante 10 dias, os ratos se mostraram mais viciados em cocaína, apesar de receberem choques, segundo observaram cientistas

Bebida: "A elaboração do estudo foi inspirada em observações em humanos" (diamant24/Thinkstock)

Bebida: "A elaboração do estudo foi inspirada em observações em humanos" (diamant24/Thinkstock)

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EFE

Publicado em 1 de novembro de 2017 às 18h07.

Los Angeles - O consumo de álcool leva a um comportamento mais propenso ao vício em cocaína, segundo os resultados de um estudo realizado com ratos que foi publicado nesta quarta-feira pela revista "Science Advances', da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

Depois de consumir álcool durante 10 dias, os ratos se mostraram mais viciados em cocaína, apesar de receberem choques elétricos quando consumiam a droga.

"A elaboração do estudo foi inspirada em observações em humanos", explicou em entrevista à Agência Efe Edmund Griffin Jr., diretor da pesquisa.

Segundo Griffin, outros estudos, como por exemplo alguns realizados pela epidemiologista da Universidade de Columbia e co-autora do relatório, Denise Kandell, demonstraram que nos humanos há uma sequência de comportamentos em casos de abuso de drogas.

"As pessoas que consomem cocaína normalmente têm um padrão histórico de dependência ao álcool ou à nicotina", destacou Griffin.

Uma das questões que o estudo queria resolver era se as pessoas que consomem álcool e maconha têm o costume de se reunir por razões meramente sociais ou também biológicas.

Para o experimento foram utilizados dois grupos de ratos: ao longo de 10 dias e durante duas horas ao dia um grupo foi submetido ao consumo de álcool e outro ao de água, e depois ambos foram expostos ao consumo de cocaína.

Segundo Griffin, os ratos que previamente consumiram álcool desenvolveram uma maior dependência à cocaína e mantiveram o consumo apesar de consequências negativas, como um choque elétrico a cada vez que consumiam a droga.

O consumo de álcool "aumenta as respostas de consumo de cocaína, embora este tenha circunstâncias negativas como o choque elétrico", disse o cientista, que realçou que o estudo mostra a presença de um fator biológico e não só de conduta social.

"Esta pesquisa abre o caminho para oferecer novas opções terapêuticas para o tratamento da dependência".

A análise mostrou que "tanto o álcool quanto a nicotina atuam através de mecanismos moleculares similares para aumentar a vulnerabilidade à cocaína".

"O que me surpreendeu é que os ratos se comportaram exatamente como esperávamos de acordo com um estudo prévio de Denise sobre pessoas que usam nicotina e álcool antes de usar cocaína", afirmou Eric Kandel, neurocientista da Universidade de Columbia e outro dos autores da pesquisa.

As conclusões que mostram que há uma base biológica e não somente social no consumo de nicotina e álcool como precursores ao consumo de cocaína abrem grandes possibilidades para o desenvolvimentos do programas de prevenção.

"Quando os jovens se envolvem com drogas é importante conhecer qual mecanismo é responsável pelo fato de o uso de uma droga aumentar o risco de usar outras drogas", apontou a especialista em reabilitação Denise Kandell.

Da mesma forma, a cientista destacou a importância do estudo para os tratamentos de reabilitação de toxicomania.

"Para tratamentos de reabilitação, é muito importante saber que o uso de álcool e nicotina é um precursor para o consumo de cocaína".

Não obstante, Griffin destacou que os ratos são mais suscetíveis à dependência que os humanos.

"Muitas pessoas que usam drogas não são tão suscetíveis a se tornarem dependentes".

Segundo os pesquisadores, o próximo passo é "entender melhor os mecanismos pelos quais o álcool dirige o processo de dependência" para outras drogas.

O estudo também abre caminho para determinar se o consumo de maconha é um fator que pode levar ao consumo de cocaína, "o que teria implicações muito importantes para os tratamentos na saúde pública", concluiu Griffin.

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