Baleia-azul: queda de 40% nas vocalizações alerta cientistas (Dustin Harris/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 12h40.
As baleias-azuis, os maiores mamíferos do planeta, têm demonstrado um comportamento estranho que está gerando grande apreensão entre os cientistas. De acordo com um estudo publicado na revista PLOS One, as vocalizações dessas criaturas marinhas caíram quase 40% nos últimos anos. Esse declínio tem levantado questões sobre o impacto das mudanças ambientais nas baleias e outros mamíferos marinhos.
A queda nas vocalizações das baleias-azuis está diretamente relacionada às mudanças ambientais causadas pelas ondas de calor marinhas, fenômeno que tem se intensificado nas últimas décadas. As altas temperaturas nos oceanos, que causaram o florescimento de algas tóxicas, têm prejudicado a alimentação das baleias. A escassez de alimentos essenciais, como krill e anchovas, resultou na diminuição das vocalizações, uma vez que as baleias agora gastam a maior parte de seu tempo tentando encontrar comida.
"Quando você realmente analisa, é como tentar cantar enquanto está morrendo de fome", afirmou John Ryan, coautor do estudo e oceanógrafo biológico do Monterey Bay Aquarium Research Institute. Para ele, a relação entre a falta de alimento e a diminuição nas vocalizações é um reflexo claro de um estresse ambiental que está impactando diretamente as baleias-azuis.
O fenômeno das ondas de calor marinhas é uma das grandes preocupações dos cientistas. Um dos principais responsáveis por essas mudanças nas águas é a massa de água quente conhecida como "The Blob", que foi descoberta em 2013 no Pacífico.
Com o passar dos anos, "The Blob" se expandiu, criando uma zona de águas quentes que afetou todo o ecossistema marinho ao longo da costa norte-americana. O aumento das temperaturas causou o desaparecimento de muitas fontes alimentares das baleias, tornando a caça por alimento ainda mais difícil.
"Existem consequências para todo o ecossistema dessas ondas de calor marinhas," disse Kelly Benoit-Bird, coautora e bióloga marinha do Monterey Bay Aquarium. Ela alerta que essas mudanças no oceano têm consequências diretas na cadeia alimentar marinha, afetando não apenas as baleias, mas toda a fauna marinha. As baleias-azuis, ao enfrentarem a escassez de alimento, acabam comprometendo seu comportamento, incluindo suas vocalizações, que são essenciais para a comunicação entre os indivíduos e para o estabelecimento de territórios.
A preocupação com os efeitos das ondas de calor marinhas é ainda maior quando se leva em consideração que esses eventos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas. Cientistas descobriram que a duração dessas ondas de calor tem triplicado desde a década de 1940. Esse aumento nas temperaturas do oceano não apenas prejudica a alimentação das baleias-azuis, mas também afeta a saúde de todo o ecossistema marinho, resultando em uma cadeia de impactos que se retroalimentam.
"Se elas não conseguem encontrar comida, e podem percorrer toda a costa oeste da América do Norte, isso tem uma grande consequência em escala", afirmou Benoit-Bird. As baleias-azuis estão agora enfrentando uma pressão ainda maior para sobreviver, enquanto as fontes de alimento se tornam cada vez mais escassas.
Outro aspecto alarmante do impacto das ondas de calor nas baleias-azuis é a diminuição na reprodução. Segundo a ecologista Dawn Barlow, "menos oportunidades de alimentação" significam que as baleias "colocam menos esforço na reprodução". Isso é preocupante, pois uma redução na taxa de reprodução pode afetar a sobrevivência das populações de baleias-azuis a longo prazo. A falta de recursos alimentares essenciais pode estar prejudicando a saúde geral das baleias, afetando sua capacidade de se reproduzir e manter a população saudável.
As preocupações sobre as mudanças no comportamento das baleias-azuis e a saúde do ecossistema marinho vão além do simples estudo da fauna. Elas são um alerta sobre a saúde dos oceanos e os impactos das mudanças climáticas no nosso planeta. Como explicou Barlow, "onde elas estão, e o que estão fazendo pode nos dizer muito sobre a saúde do ecossistema". O comportamento das baleias-azuis pode servir como um indicador precoce de mudanças mais amplas no ambiente marinho e terrestre.
"Ouvir e aprender com esses lugares é essencial para o nosso futuro. Agora mais do que nunca, é importante ouvir", disse Barlow.