Intoxicação por metanol: cinco pessoas morreram em São Paulo, diz governo (iStock/Getty Images)
Repórter
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 09h37.
O número de mortes e casos suspeitos de intoxicação por metanol cresce e preocupa autoridades de saúde. Em São Paulo, já são cinco mortes, sete casos confirmados e outros 15 suspeitos em apuração. O problema ultrapassou as fronteiras do estado: em Pernambuco, dois óbitos e um caso de perda parcial da visão estão sob apuração.
Em entrevista à CBN, nesta quarta-feira, 1º, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse acreditar que o número de casos suspeitos deve crescer nos próximos dias, já que a rede de vigilância foi reforçada em todo o país.
Padilha explicou que equipes de saúde foram orientadas a notificar logo no primeiro indício de sintomas compatíveis com intoxicação por metanol, como náuseas, cólicas e alterações visuais. Segundo ele, a expectativa é que a atenção redobrada permita detectar novos episódios e garantir resposta mais rápida.
“Nossa expectativa é que isso aumente a atenção também dos cidadãos. Quando chegam à unidade, às vezes contam os seus sinais, seus sintomas, mas não fazem alerta específico: ‘fui a um lugar, bebi algo de que eu não sabia a origem’. Tudo isso reforça”, disse o ministro.
Conhecido como álcool metílico, o metanol é usado em solventes, combustíveis, vernizes e até fluidos para copiadoras. Apesar da semelhança com o etanol, sua toxicidade é muito mais elevada.
No organismo, o metanol é transformado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, compostos que atacam o sistema nervoso e a visão, podendo provocar convulsões, cegueira e morte.
Os sintomas mais comuns incluem náusea, cólicas, alterações visuais e confusão mental, que podem surgir de 12 a 24 horas após a ingestão.
Em caso de identificação de sintomas, a orientação do governo federal é buscar imediatamente um serviço de emergência médica e acionar os canais oficiais de suporte. A população pode ligar para o Disque-Intoxicação da Anvisa (0800 722 6001).
Hoje, existem dois antídotos reconhecidos internacionalmente para intoxicação por metanol: o etanol farmacêutico, disponível em 32 centros de referência em intoxicação do SUS, e o fomepizol, considerado mais eficaz, mas ainda sem registro no Brasil.
Ambos atuam bloqueando a enzima responsável por metabolizar o metanol em substâncias tóxicas. Em casos graves, pode ser necessária hemodiálise para eliminar o solvente e o ácido fórmico já acumulados no corpo.
Padilha enfatizou que o etanol farmacêutico é o antídoto principal no Brasil, ressaltando que se trata de uma formulação específica. “O principal antídoto é o etanol farmacêutico, que não é o comum, nem o das bebidas, muito menos o dos combustíveis. É uma formulação com concentração variada. Recomendamos a utilização com supervisão dos centros de referência em intoxicação”, disse.
A recomendação dos especialistas é que o etanol farmacêutico seja sempre administrado em ambiente hospitalar, sob supervisão médica.
O tratamento exige cálculo preciso da dose conforme o peso do paciente e monitoramento contínuo. Por isso, não deve ser confundido com o álcool presente em bebidas ou combustíveis, e muito menos utilizado de forma caseira.
Já sobre o fomepizol, o ministro afirmou que o governo negocia com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e deve entrar em contato com fabricantes internacionais para avaliar a importação.
“O Ministério da Saúde já acionou o contato com a Organização Pan-Americana de Saúde e hoje vou fazer contato com as empresas que já produziram esse antídoto para vermos a possibilidade de importar e ter um estoque de reserva”, explicou.
O fomepizol é considerado o antídoto mais eficaz contra intoxicação por metanol porque atua de forma mais direta e segura na inibição da enzima álcool desidrogenase (ADH), responsável por transformar o metanol em formaldeído e ácido fórmico.
Ao contrário do etanol farmacêutico, que mantém o paciente em estado de embriaguez e exige monitoramento constante, o fomepizol apresenta menos efeitos colaterais e maior previsibilidade clínica. Por isso, ele é recomendado em consenso internacional como o tratamento preferencial para os casos graves.
Apesar da eficácia comprovada e de integrar a lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS), o fomepizol não tem registro no Brasil. O plano do Ministério da Saúde, portanto, é criar uma reserva estratégica, com apoio da Opas, para garantir a disponibilidade do antídoto nos centros de referência, especialmente diante da escalada recente de casos em São Paulo e em Pernambuco.