Ciência

Como alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050 sem detonar o planeta

Estudo publicado na prestigiada revista Nature defende mudanças de hábitos à mesa em sintonia com os limites planetários

No vermelho: diferença entre capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera saldo negativo. (Getty Images/Getty Images)

No vermelho: diferença entre capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera saldo negativo. (Getty Images/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 13 de outubro de 2018 às 07h05.

Última atualização em 13 de outubro de 2018 às 07h05.

São Paulo – Sabe aquela frase popular que diz que “tudo na vida tem limite”? Pois a cada ano, a humanidade extrapola as fronteiras planetárias que garantem o próprio sustento da vida por aqui. Queima desenfreada de combustíveis fósseis, práticas agrícolas insustentáveis, pesca predatória, atividades industriais poluidoras e a crescente demanda por recursos naturais têm gerado um saldo negativo para o meio ambiente global.

Hoje já somos sete bilhões de pessoas e em 2050 poderemos chegar a 10 bilhões de seres com um imenso apetite por bens de consumo e recursos básicos, como alimentos. Mas como alimentar tanta gente sem detonar o planeta sob um cenário de mudanças climáticas? A resposta, segundo um novo estudo publicado na revista Nature, passa pela adoção de dietas saudáveis ​​e mais baseadas em vegetais, além de um esforço para reduzir pela metade a perda e o desperdício de alimentos.

As mudanças climáticas não serão suficientemente mitigadas sem mudanças de hábitos à mesa, diz o estudo, que é o primeiro a quantificar como a produção e o consumo de alimentos afetam as fronteiras planetárias e um espaço operacional seguro para a humanidade, além do qual os sistemas vitais da Terra podem se tornar instáveis.

Adotar mais dietas baseadas em vegetais poderia reduzir as emissões de gases de efeito estufa em mais da metade e também reduzir outros impactos ambientais, como a aplicação de fertilizantes e o uso de terras cultiváveis ​​e água doce, de um décimo a um quarto.

A adoção dessas opções, segundo a pesquisa, reduz o risco de ultrapassar os limites ambientais globais relacionados à mudança climática, o uso de terras agrícolas, a extração de recursos de água doce e a poluição dos ecossistemas.

 

Sem a adoção de práticas mais sustentáveis, a pesquisa mostra que os impactos ambientais do sistema alimentar poderiam aumentar de 50 a 90% até 2050, superando todas as fronteiras planetárias relacionadas à produção de alimentos.

Além das mudanças na dieta, o estudo ressalta que é necessário melhorar as tecnologias e práticas de manejo na agricultura para limitar as pressões no campo. Aumentar a produtividade das terras agrícolas existentes, equilibrar a aplicação de fertilizantes e melhorar a gestão da água poderiam, juntamente com outras medidas, reduzir esses impactos pela metade.

Por fim, os pesquisadores destacam que é urgente reduzir pela metade a perda de alimentos e o desperdício a fim de manter o sistema alimentar dentro dos limites ambientais. Atualmente, cerca de 1,6 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas a cada ano, o que representa US$ 1,2 trilhão perdidos e 8% das emissões globais anuais de gases de efeito estufa, vilões do aquecimento global.

Comida desperdiçada é água, terra e outros recursos indo para o lixo. Um estudo recente do Global Footprint Network (GFN),  organização de pesquisa que mede a pegada ecológica das atividades humanas no mundo, mostrou que até o fim 2018, teremos consumido 1,7 planeta Terra, um apetite absolutamente insustentável no longo prazo. Em outras palavras, a humanidade está utilizando a natureza de forma mais rápida do que os ecossistemas do nosso planeta podem se regenerar.

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