Ciência

Cobra pode ter iniciado a transmissão de coronavírus, dizem cientistas

Pesquisa aponta que cobra chinesa vendida em mercado local de Wuhan, na China, pode ter começado a transmissão do coronavírus para humanos

Coronavírus: nova pesquisa aponta cobra chinesa como possível transmissora do vírus (Skink Chen/Reprodução)

Coronavírus: nova pesquisa aponta cobra chinesa como possível transmissora do vírus (Skink Chen/Reprodução)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 16h54.

Última atualização em 31 de janeiro de 2020 às 15h32.

São Paulo - Nas últimas semanas, cientistas e pesquisadores estão tentando descobrir a origem do coronavírus de Wuhan que está afetando centenas de pessoas ao redor do mundo. Um estudo, realizado pela Universidade de Pequim em conjunto com a Universidade de Bioengenharia de Wuhan, na China, indica que cobras da espécie Bungarus multicinctus, conhecidas como "krait chinesas", podem ser a origem da possível pandemia que teve início no país asiático.

O primeiro caso de coronavírus foi identificado no final de 2019 e, desde então, pacientes em outros países da Ásia - e nos Estados Unidos - também foram diagnosticados com a doença respiratória. Utilizando amostras de pacientes contaminados, os cientistas das universidades locais estudaram seu código genético e utilizaram microscópios para fotografá-los. Feito isso, eles compararam o DNA com as sequências de proteínas do mesmo vírus encontrados em animais, como pássaros, ouriços, morcegos e cobras.

Com essa análise comparativa, eles conseguiram descobrir que os códigos de proteína do coronavírus, chamado de 2019-nCoV, são mais similares com as sequências encontradas em cobras. O relatório aponta que as cobras chinesas foram vendidas em um mercado local de frutos do mar, localizado em Wuhan - cidade onde o surto teve início. No entanto, o mercado está fechado desde que os primeiros pacientes foram diagnosticados, o que dificulta o rastreamento do hospedeiro em questão.

Os cientistas acreditam que a cobra tenha contaminado diretamente os primeiros pacientes, ainda que não seja possível determinar como ocorreu a transmissão. Outro questionamento levantado por eles é que o vírus, aparentemente, é capaz de se adaptar tanto em hospedeiros de sangue frio - como os répteis - e hospedeiros de sangue quente - como os seres humanos.

A possível relação entre as cobras chinesas e o coronavírus também indica os perigos sobre o comércio de animais selvagens em mercados chineses. Gao Fu, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, disse para a agência Reuters que a vida selvagem comercializada na cidade de Wuhan é responsável pela transmissão do vírus, que costuma se alocar em animais silvestres.

Christian Walzer, diretor executivo da Wildlife Conservation Society em Nova York, acrescentou que o estilo de vida dos animais hospedeiros é um fator influente: "A parte do bem-estar animal é óbvia, mas muito mais oculta é o acúmulo e a mistura de todas essas espécies em uma área muito pequena, com secreções e urina juntas. A outra coisa que se deve considerar é que esses animais estão estressados ​​demais nessas gaiolas, de modo que seus sistemas imunológicos falham muito rapidamente", disse Walzer para a Reuters.

Publicado na revista Jornal of Medical Virology, o estudo é uma das análises que estão sendo consideradas para tentar descobrir a origem do vírus. Até o momento, sabe-se que ele é transmitido de pessoa para pessoa por meio do ar, e que seus sintomas são, entre outros, febre e dificuldade para respirar. Outros animais, como texugos, morcegos e ratos, também foram apontados por autoridades como possíveis fontes de origem.

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