Pesquisadores chineses realizam o primeiro transplante de fígado de porco em humano, marcando um avanço significativo na medicina (Paulo Whitaker/Reuters)
Agência de notícias
Publicado em 26 de março de 2025 às 15h46.
Uma equipe médica chinesa anunciou, nesta quarta-feira, 26, o primeiro transplante de fígado de porco geneticamente modificado em um humano com morte cerebral, oferecendo novas esperanças para uma alternativa viável de doação de órgãos. O procedimento foi realizado por médicos da Quarta Universidade Médica Militar em Xi'an, marcando um marco importante para a medicina e a pesquisa em transplantes de órgãos.
O fígado de um miniporco ("micro pig") com seis genes editados foi transplantado em um paciente com morte cerebral no hospital em 10 de março de 2024. O estudo, publicado na revista Nature, revelou que o órgão suíno funcionou bem durante os 10 dias de monitoramento, mantendo funções essenciais como secreção de bile e produção de albumina.
Essa abordagem pode ajudar a aliviar a falta de órgãos humanos, oferecendo uma solução temporária para pacientes em listas de espera. No entanto, o experimento foi interrompido a pedido da família do paciente, que ainda mantinha seu fígado original, recebendo o que é conhecido como um transplante auxiliar.
Durante o período de observação, o fígado de porco demonstrou uma boa capacidade de secreção de bile e produção de proteínas essenciais. Segundo Lin Wang, coautor do estudo, "é uma grande conquista que pode ajudar pacientes com doenças hepáticas no futuro". No entanto, o órgão suíno produziu quantidades significativamente menores de bile e albumina em comparação com um fígado humano, o que ainda exige mais estudos para confirmar sua viabilidade.
Os pesquisadores chineses agora planejam testar fígados de porco geneticamente modificados em pacientes vivos. Este estudo é um passo importante para analisar se tais órgãos podem fornecer suporte a longo prazo a pacientes com insuficiência hepática. A pesquisa é vista como um teste de compatibilidade de fígados modificados geneticamente com humanos, um avanço importante, embora ainda não seja uma solução substitutiva para o transplante de fígado de doadores humanos.
Peter Friend, professor de transplantes da Universidade de Oxford, elogiou os resultados do estudo, mas alertou que "isso não é um substituto para o transplante de fígado de doadores humanos, pelo menos no curto prazo". Ele destacou que o estudo representa um teste valioso da compatibilidade de órgãos de porco geneticamente modificados e aponta para um futuro em que esses órgãos possam ser usados como uma alternativa para pacientes com insuficiência hepática.
Lin Wang também ressaltou a importância da colaboração com pesquisadores dos Estados Unidos, reconhecendo que as descobertas feitas nos EUA foram fundamentais para o avanço da pesquisa.
Nos últimos anos, os porcos se destacaram como os melhores doadores de órgãos para humanos. Transplantes de rins e corações de porco já foram realizados nos Estados Unidos, com resultados mistos. Um paciente que recebeu um transplante de rim de porco em novembro de 2024, por exemplo, retornou para casa após o procedimento bem-sucedido, enquanto outros transplantes de coração não tiveram o mesmo sucesso.