Vaping, mesmo sem nicotina, afeta negativamente o fluxo sanguíneo e a absorção de oxigênio, alerta pesquisa. (Jane Khomi/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 26 de novembro de 2024 às 12h19.
O uso de cigarros eletrônicos, também conhecido como vaping, pode ter efeitos imediatos na saúde vascular e nos níveis de oxigênio no sangue. E isso acontece mesmo quando os dispositivos não contêm nicotina. É o que aponta um estudo recente apresentado na reunião anual da Radiological Society of North America, em Chicago.
A pesquisa sugere que essas alterações podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares no longo prazo, causando novas preocupações sobre o uso crescente desses dispositivos, especialmente entre os jovens.
A pesquisa analisou o impacto do vaping em 31 participantes, com idades entre 21 e 49 anos, incluindo fumantes de cigarros convencionais, fumantes de vaping e pessoas que não utilizam cigarros eletrônicos ou convencionais. Por meio de ressonâncias magnéticas e medições detalhadas do fluxo sanguíneo, os pesquisadores observaram uma redução significativa na velocidade do fluxo arterial e na saturação de oxigênio em todos os grupos que utilizaram dispositivos, independentemente de conterem nicotina.
A função vascular desempenha um papel fundamental no transporte eficiente de oxigênio e nutrientes pelo corpo, além de remover resíduos metabólicos. Alterações nessa capacidade podem levar a condições graves, como formação de coágulos sanguíneos, hipertensão arterial e acidentes vasculares cerebrais (AVC).
O estudo revelou que a velocidade do fluxo sanguíneo na artéria femoral, que abastece o corpo inferior com sangue oxigenado, caiu significativamente após o uso de cigarros eletrônicos. Entre os participantes que utilizaram dispositivos com nicotina, o impacto foi ainda mais pronunciado, mas aqueles que vaporizavam líquidos sem nicotina também apresentaram redução na função vascular.
Além disso, os pesquisadores identificaram uma queda na saturação de oxigênio venoso, indicando que os pulmões dos usuários provavelmente estavam absorvendo menos oxigênio. Essa descoberta reforça a preocupação de que os cigarros eletrônicos não são inofensivos e podem afetar a saúde cardiovascular mesmo na ausência de nicotina.
O estudo é relevante para informar políticas públicas e reguladores como a FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA), que avalia quais dispositivos de vaping podem permanecer no mercado. Embora algumas empresas argumentem que os cigarros eletrônicos ajudam fumantes a abandonar o tabaco, estudos não confirmam sua eficácia como dispositivos de redução de danos.
Apesar de alguns produtos já terem sido aprovados pela FDA, nenhum recebeu autorização específica como ferramenta para parar de fumar. Especialistas, como o Dr. Albert Rizzo, diretor médico da American Lung Association, alertam que o vaping expõe os usuários a riscos significativos de saúde, mesmo com menos toxinas do que os cigarros convencionais.
“O que estamos vendo são efeitos de curto prazo preocupantes. Não sabemos ainda o impacto a longo prazo desses dispositivos no organismo, mas esses resultados sugerem possíveis riscos cardiovasculares e pulmonares sérios”, disse Rizzo.
A American Lung Association expressa preocupação com o uso crescente de cigarros eletrônicos entre jovens, atraídos pelos sabores variados disponíveis no mercado. Estudos anteriores já associaram o vaping a riscos de dependência e danos à saúde pulmonar em adolescentes.
Além disso, pesquisas mostram que partículas presentes no vapor podem causar inflamações semelhantes às associadas à poluição do ar, elevando o risco de ataques cardíacos, AVCs e problemas circulatórios.Embora mais estudos sejam necessários para entender os efeitos a longo prazo, os resultados reforçam que o vaping não é uma alternativa segura ao tabaco convencional.
Embora os cigarros eletrônicos não contenham os mesmos compostos cancerígenos do tabaco convencional, os usuários ainda estão expostos a uma série de substâncias químicas. Os vapores podem conter chumbo, níquel, formaldeído, glicerina e propilenoglicol, dependendo do dispositivo e do líquido utilizado.
“Ainda que não haja nicotina no cigarro eletrônico, outros componentes podem ser prejudiciais”, destacou a autora principal do estudo, Dra. Marianne Nabbout. A pesquisa sugere que esses elementos podem causar irritação nas vias respiratórias, desencadeando inflamações que afetam não apenas os pulmões, mas também o sistema circulatório.