Geoengenharia solar: tecnologia gera debates nas políticas climáticas (Justin Paget/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 29 de março de 2021 às 09h11.
Última atualização em 29 de março de 2021 às 22h02.
As Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina, órgão científico dos Estados Unidos, fizeram um pedido mais do que inusitado ao governo: gastar pelo menos 100 milhões de dólares para pesquisar uma tecnologia que bloquearia a luz do Sol para conter as mudanças climáticas e impedir que ela aqueça a atmosfera.
A tecnologia se chama geoengenharia solar e envolveria refletir a energia do Sol de volta para o espaço, utilizando recursos como a injeção de aerossóis na atmosfera. O órgão científico estadunidense quer saber se teria como ela funcionar e quais seriam os efeitos colaterais.
De acordo com Chris Field, chefe do comitê que produziu o relatório, a geoengenharia solar não substitui a descarbonização, fazendo referência a necessidade de emitir menos dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa para a atmosfera. “A tecnologia para refletir a luz solar merece um financiamento substancial e deve ser pesquisada o mais rapidamente possível", afirma ele.
O estudo feito pela Academias reconhece que a geoengenharia é um tema controverso na política climática, já que os riscos podem levar a consequências imensuráveis, como afetar os padrões climáticos regionais, diminuir a pressão pública para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e até possivelmente aquecer a Terra “catastroficamente rápido” caso parassem de refletir a luz do Sol após um período.
Ao mesmo tempo, os autores ressaltam que o mundo precisa começar a examinar outras opções além do controle de gases de efeito estufa. Eles acreditam que aprender mais sobre essa tecnologia controversa “pode ter um valor profundo” para orientar decisões futuras.
Alguns críticos afirmam que essas hipóteses não são suficientes. Em um trecho, os pesquisadores levam em conta o "risco social" que a tecnologia pode ter, como afetar países mais pobres ou agricultores dessas regiões cujas vidas podem ser afetadas por mudanças nos padrões de chuvas.
De acordo com Prakash Kashwan, professor de ciência política na Universidade de Connecticut, não há garantia que essa preocupação irá permanecer com o avanço da pesquisa. “Uma vez que esses tipos de projetos entram no processo político, os cientistas que estão adicionando todos esses qualificadores, e todas essas notas de advertência, não estão no controle”, disse ele.
Já para Jennie Stephens, diretora da Escola de Políticas Públicas e Assuntos Urbanos da Northeastern University, a pesquisa em geoengenharia consome dinheiro e atenção dos problemas centrais que precisamos focar, que é cortar a emissão de gases e ajudar comunidades vulneráveis a lidar com dificuldades climáticas que já estão acontecendo.
“Precisamos nos dobrar em relação a mudanças transformadoras maiores”, disse Stephens. “É aí que o investimento precisa estar.”
A geoengenharia solar tem apoio bipartidário no Congresso estadunidense que,no final de 2019, deu à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica 4 milhões de dólares para pesquisar a tecnologia.