Meteorito Erg Chech 002 tem 43 fragmentos, os maiores deles do tamanho de "um punho" (afp/AFP)
AFP
Publicado em 16 de março de 2021 às 08h16.
Um grupo de cientistas identificou um meteorito como o mais antigo de origem vulcânica, procedente de um protoplaneta que apareceu no primeiro milhão de anos do nosso Sistema Solar.
O meteorito Erg Chech 002 fez uma longa viagem desde sua cristalização há 4,565 bilhões de anos, antes de pousar, "graças ao acaso das órbitas", no sul da Argélia há "menos de 100 anos", afirmou o geoquímico Jean-Alix Barrat, da Universidade de Brest.
Barrat publicou um estudo recentemente, na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, dedicado ao objeto encontrado em maio de 2020 por caçadores de meteoritos em Adrar, uma área do Saara.
Oficialmente, são 43 fragmentos, os maiores deles do tamanho de "um punho", relata à AFP.
A rocha, de aspecto esverdeado quando cortado e com uma superfície marrom, é uma testemunha "excepcional" da formação de protoplanetas, os embriões de planetas que precederam o surgimento dos que integram o nosso sistema solar.
O Erg Chech 002 é um objeto raro por vários motivos.
Dos quase 65.000 meteoritos registrados, este é um dos 4.000 caracterizados por sua "matéria diferenciada", mais elaborada que as de outros meteoritos porque procede de um corpo celeste grande o suficiente para ter registrado atividade tectônica.
Entre estes 4.000 meteoritos, 95% procedem apenas de dois asteroides, mas o Erg Chech 002 vem de um asteroide dos 5% restantes.
Com uma composição singular, "é o único dos 65.000 meteoritos que é assim", destaca Barrat.
O geoquímico está convencido, porém, de que "este tipo de rocha era bastante comum no princípio da história do sistema solar".
Ele cita duas explicações para esta particularidade. Os protoplanetas que os continham foram "utilizados para o crescimento de outros planetas telúricos", como a Terra. Outros foram pulverizados no grande jogo de sinuca cósmico das origens, do qual a superfície da Lua, cheia de impactos é um testemunho tardio.
O "corpo-parente" do Erg Chech 002 media talvez uma centena de quilômetros.
O meteorito foi formado no primeiro milhão de anos do sistema solar, segundo os cálculos dos coautores do estudo, Marc Chaussidon, do Instituto de Física do Globo de Paris, e Johan Villeneuve, da Universidade de Lorraine, leste da França.
Os cientistas já tinham conhecimentos sobre esta formação, afirma o cientista da Universidade de Brest, graças aos meteoritos denominados metálicos, "que correspondem a núcleos de protoplanetas". Mas, com o Erg Chech 002, "esta é a primeira vez que temos uma parte da crosta" destes corpos celestes.
Para obtê-la, foi necessária uma combinação de circunstâncias tão excepcionais quanto o próprio objeto.
Uma camada de lava se acumulou na superfície do corpo-parente, alimentada pelo calor do alumínio em seu coração. Esta crosta que continha o futuro meteorito se solidificou momentaneamente, mas, em vez de desaparecer por derretimento mais uma vez, um evento imprevisto o arrancou de seu corpo parente.
Os cientistas deduziram isto ao constatar que sofreu um resfriamento brutal.
A única explicação é que a "rocha foi projetada no espaço" gelado, após um choque, afirma Barrat.
Ao estudar sua composição, eles deduziram que o meteorito viajou mais de 4,5 bilhões de anos "em uma pilha de cascalho, protegida da radiação solar".
Isso foi até 26 milhões de anos atrás, quando o pequeno asteroide que o continha foi desmembrado, e a rocha exposta ao sol em seu último estágio. Seguiu seu caminho, girando e girando.