Ciência

Cientistas encontram DNA mais antigo do vírus da varíola

A origem do vírus permanece desconhecida e a descoberta do DNA poderia permitir o fim do mistério sobre a doença

Microscópio: descoberta indica que a infecção surgiu entre os humanos mais recentemente do que se pensava (foto/Getty Images)

Microscópio: descoberta indica que a infecção surgiu entre os humanos mais recentemente do que se pensava (foto/Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de dezembro de 2016 às 11h02.

A surpreendente descoberta do DNA do vírus da varíola no corpo mumificado de uma criança que morreu no século XVII pode ajudar os cientistas a rastrear a história misteriosa deste agente patogênico mortal, segundo um estudo.

Espécimes deste vírus existem apenas nos congeladores protegidos nos laboratórios desde a erradicação da infecção no fim da década de 1970, resultado das campanhas de vacinação.

Mas a origem do vírus permanece desconhecida e a descoberta do DNA viral na pele do corpo mumificado que estava em uma cripta sob uma igreja da Lituânia, poderia permitir o fim do mistério sobre a doença infecciosa, de acordo com os cientistas.

A descoberta foi publicada na revista científica americana Current Biology.

A sequência de DNA deste antigo agente patogênico indicaria, entre outras coisas, que a infecção surgiu entre os humanos mais recentemente do que se pensava e revela também que o micróbio sofreu várias mutações.

"Há indícios de que múmias egípcias de 3.000 a 4.000 anos de idade tinham marcas que pareciam de peles afetadas, interpretadas como resultantes de pústulas características da varíola", afirmou a cientista Ana Duggan, da Universidad McMaster de Canadá, principal autora do estudo.

"A descoberta mais recente questiona realmente esta interpretação e faz pensar que a história da varíola em populações humanas pode ser inexata", completou.

Os cientistas reconstituíram o genoma completo da cepa encontrada no corpo mumificado e o compararam com os vírus da varíola que datam de meados do século XIX e igualmente do período precedente à erradicação da infecção, no fim da década de 1970.

Eles concluíram que os vírus tinham um ancestral viral comum que apareceu entre 1588 e 1645, o que coincide com um período de exploração, migração e colonização que poderia ter contribuído para a propagação da varíola no mundo.

Com a tese, talvez os egípcios da época de Ramsés não tenham sofrido com a varíola, e sim a varicela ou o sarampo, indicaram os cientistas.

Além disso, a reconstituição do genoma deste antigo vírus do século XVII possibilitou uma datação mais precisa da evolução da doença. Os cientistas conseguiram deste modo identificar distintos períodos de evolução do vírus.

Eles citam um exemplo claro registrado na época em que o médico inglês Edward Jenner criou sua vacina contra a varíola no século XVIII.

Neste período, o vírus aparentemente se dividiu em duas cepas, o que sugere que a vacinação pode ter exercido uma pressão sobre o agente patogênico para sua adaptação.

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