Ciência

Cientistas dizem ter suprimido HIV do organismo de 5 pessoas

No estudo, conduzido por 3 anos, os cientistas combinaram 2 novas vacinas experimentais contra o HIV com droga usada no tratamento de câncer

HIV: depois do tratamento, o vírus teria sido suprimido em cinco dos 24 pacientes que participaram do experimento (China Photos/Getty Images)

HIV: depois do tratamento, o vírus teria sido suprimido em cinco dos 24 pacientes que participaram do experimento (China Photos/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de fevereiro de 2017 às 19h35.

Um grupo internacional de cientistas afirma ter conseguido suprimir o vírus HIV dos organismos de cinco pacientes infectados - e impedir que ele voltasse a se replicar-, substituindo o uso diário de drogas antirretrovirais por uma nova terapia com base em vacinação.

No estudo, conduzido ao longo de três anos, os cientistas combinaram duas novas vacinas experimentais contra o HIV com uma droga amplamente utilizada no tratamento de câncer.

Depois do tratamento, o vírus teria sido suprimido em cinco dos 24 pacientes que participaram do experimento.

Os resultados da pesquisa foram divulgados na semana passada, na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, realizada em Seattle, nos Estados Unidos, de acordo com a revista de divulgação científica New Scientist.

Embora os resultados sejam considerados animadores, os próprios autores alertam que será preciso realizar novos estudos e, principalmente, acompanhar os pacientes por mais tempo.

Segundo eles, tratamentos desenvolvidos antes aparentemente curavam as pessoas infectadas com o HIV, mas o vírus acabava voltando depois de algum tempo.

A maior parte das pessoas infectadas com o HIV precisa tomar drogas antirretrovirais diariamente para impedir que o vírus se replique, causando danos ao sistema imune.

Essas drogas precisam ser tomada ao longo de toda a vida, porque o vírus pode ficar oculto nas células de certos tecidos e, sem a medicação, acaba ressurgindo rapidamente.

Com o novo tratamento, porém, os pesquisadores dizem ter conseguido eliminar o vírus e fazer com que o próprio organismo dos pacientes se encarregasse de impedir seu ressurgimento.

O grupo de pesquisadores foi liderado por Beatriz Mothe, do Instituto de Pesquisa sobre Aids IrisCaixa, em Barcelona (Espanha). Há três anos eles iniciaram os testes em 24 pessoas que haviam sido diagnosticadas recentemente com o HIV.

Os pacientes receberam duas vacinas, desenvolvidas por cientistas da Universidade de Oxford (Reino Unido), além de drogas antirretrovirais.

Em 2017, 15 dos pacientes receberam mais uma dose de uma das vacinas, seguida por três doses de romidepsin, uma droga anticâncer que havia mostrado potencial para impedir que o HIV se escondesse. Depois, os pacientes tomaram mais uma dose de vacina e pararam de tomar os antirretrovirais.

Em 10 dos pacientes, o vírus voltou rapidamente e eles tiveram que retomar o uso dos antirretrovirais. Mas cinco deles não precisaram voltar a tomar as drogas, porque o próprio sistema imune deles foi capaz de suprimir o vírus sozinho.

Segundo a New Scientist, um dos cinco pacientes já está há sete meses sem tomar os antirretrovirais. Os outros quadro estão livres do vírus por seis, 14, 19 e 21 semanas, respectivamente.

Os pacientes serão acompanhados para que os cientistas verifiquem por quanto tempo seus organismos conseguem controlar o vírus por si sós.

De acordo com os autores do estudo, não está claro ainda porque o novo tratamento não deu certo para dois terços do grupo de pacientes.

Como funciona

As duas vacinas usadas no experimento possuem genes que comandam a produção de certas proteínas que também estão presentes em todas as linhagens do HIV.

Uma dessas proteínas chega ao sangue e é reconhecida pelo sistema imune como invasora. Isso ativa um tipo de células de defesa do organismo - chamadas células-T citotóxicas CD8 - que se tornam capazes de reconhecer, atacar e destruir as células infectadas pelo HIV.

O segundo componente da terapia, o romidepsin, faz com que os vírus HIV adormecidos saiam de seu esconderijo e sejam atacados pelas células CD8.

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