Microcefalia: os pesquisadores construíram e testaram sete vírus mutantes diferentes (Nacho Doce/Reuters)
EFE
Publicado em 28 de setembro de 2017 às 16h57.
Washington - Uma mutação genética, provavelmente adquirida em 2013, deu ao vírus da zika a capacidade de causar microcefalia fetal severa, segundo um novo estudo publicado nesta quinta-feira pela Associação Americana pelo Avanço da Ciência na revista "Science".
Os resultados esclarecem como um vírus evoluiu de uma doença inócua para um patógeno de preocupação global.
Desde 2016, as epidemias de vírus da zika no continente americano foram declaradas uma emergência de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e os cientistas não puderam determinar por que o vírus passou de causar infecções leves para desencadear síndromes neurológicas severas.
Ao comparar as cepas contemporâneas do vírus da zika das epidemias sul-americanas de 2015 e 2016 com um vírus cambojano ancestral que circulava em 2010, o pesquisador Ling Yuan e sua equipe da Academia das Ciências de Pequim detectaram uma mutação crítica que conferiu a capacidade de causar microcefalia por infecção fetal em ratos.
"Essa mutação, denominada S139N, que substituiu um aminoácido de serina com uma arginina na posição 139 de uma proteína estrutural denominada prM dentro da capa protetora do patógeno, também fez com que o vírus fosse mais letal para as células precursoras de neurônios humanos em cultivo em comparação com a forma ancestral", detalha a publicação.
Como o vírus da zika acumulou numerosas mudanças ao longo de seu genoma entre 2010 e 2016, os pesquisadores construíram e testaram sete vírus mutantes diferentes. De todas as variantes, a S139N causou uma microcefalia e uma letalidade embrionárias muito mais graves em ratos que as demais.
A análise evolutiva revelou que a mutação S139N provavelmente surgiu por volta de 2013, coincidindo com relatórios iniciais de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré, associadas à zika.
A zika, assim como dengue, a chicungunha e febre amarela urbana são transmitidas pelo Aedes aegypti, um mosquito cuja população se multiplica com a chegada do verão, que lhe oferece condições propicias para a reprodução: temperaturas elevadas e focos de água limpa e parada devido às chuvas.