Ciência

Cientistas descobrem novas técnicas de rejuvenescimento humano — e anfíbios são os grandes 'heróis'

Pesquisadores identificaram as mudanças ao analisar marcas químicas deixadas pelas células-tronco em suas divisões

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 22 de maio de 2025 às 17h36.

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Dois avanços científicos recentes revelaram os mecanismos por trás do envelhecimento do sangue humano e a capacidade de uma espécie de anfíbio em regenerar partes do corpo perdidas, abrindo possibilidades para novas abordagens de rejuvenescimento.

Em uma das pesquisas, cientistas identificaram alterações biológicas que tornam o organismo humano mais suscetível a doenças com o passar do tempo. Paralelamente, outro grupo explicou o processo pelo qual salamandras lesionadas conseguem formar novamente membros e órgãos internos, de acordo com o jornal norte-americana Financial Times.

A publicação simultânea desses estudos evidencia o crescente interesse da comunidade científica em desenvolver técnicas que possam estender a longevidade humana, buscando formas de frear, interromper ou até reverter os danos ao corpo.

“Para avançarmos além dos tratamentos antienvelhecimento genéricos e alcançarmos a medicina de precisão voltada para o envelhecimento, este tipo de ferramenta é fundamental”, afirmou Lars Velten, coautor do estudo sobre o sangue divulgado nesta quarta-feira, 21, na revista Nature.

Velten e sua equipe, de instituições lideradas pelo Centro de Regulação Genômica e o Instituto de Pesquisa em Biomedicina, em Barcelona, analisaram as alterações nas células-tronco responsáveis pela produção de sangue ao longo da vida humana.

Com o envelhecimento, essas células-tronco passam a ser dominadas por pequenos grupos chamados “clones”, que tendem a gerar células mieloides — células do sistema imune associadas à inflamação crônica, fator ligado a diversas doenças. A predominância desses clones começa a ser detectada a partir dos 50 anos, tornando-se mais evidente na década seguinte, conforme revelado pela pesquisa.

“A transição de uma diversidade celular para a dominância de clones não acontece por acaso”, explicou Indranil Singh, coautor do estudo, que conduziu a pesquisa no IRB Barcelona e atualmente atua no Instituto Broad, nos Estados Unidos. “Já aos 50 anos, esse processo pode ser observado, e, a partir dos 60, torna-se quase inevitável.”

Inovação pode ser aplicada em humanos?

Os cientistas identificaram essas mudanças ao analisar marcas químicas — “códigos de barras” — deixadas pelas células-tronco em suas divisões que originam as gerações subsequentes. Eles esperam que essa abordagem sirva para antecipar sinais de doenças como a leucemia mieloide aguda, além de estimular pesquisas para desenvolver técnicas de rejuvenescimento.

Dusko Ilic, professor de ciências de células-tronco do King’s College London, destacou o estudo como “um novo e poderoso método para acompanhar a evolução das células sanguíneas ao longo do envelhecimento”.

“Os resultados apontam para a possibilidade de detectar precocemente doenças cardíacas, câncer e distúrbios imunológicos, e podem guiar o desenvolvimento de tratamentos que desacelerem ou revertam as alterações prejudiciais na produção celular”, complementou.

No entanto, Ilic ressaltou desafios para transformar essa tecnologia em aplicações clínicas, como a necessidade de compreender melhor todos os clones observados e aprimorar a precisão para identificar clones pequenos, porém relevantes.

Em paralelo, outro estudo publicado na Nature na mesma data examinou a regeneração de membros em axolotes — anfíbios capazes de reconstruir partes do corpo perdidas por ataques ou acidentes.

Pesquisadores do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia Austríaca de Ciências identificaram o papel do gene Hand2 no direcionamento do crescimento dessas partes substitutas.

“Elly Tanaka, autora sênior do estudo, ressaltou que ‘os mesmos genes estão presentes em humanos, e o fato de que o axolote reutiliza esse circuito durante a vida adulta para regenerar membros é extremamente promissor’.” Isso indica que, caso exista uma memória semelhante nos membros humanos, será possível futuramente ativá-la para desbloquear capacidades regenerativas.

O biólogo Mark Ferguson, especialista em cicatrização e cura, classificou a pesquisa como “excepcional” e destacou os axolotes como os “campeões da regeneração” entre animais adultos.

Se as células humanas adultas também apresentarem essas “memórias” de localização, isso poderá abrir caminhos para desenvolver técnicas capazes de produzir tecidos substitutos, concluiu Ferguson, ex-conselheiro científico-chefe do governo da Irlanda.

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