Obesidade: nos mamíferos, o consumo de alimentos ricos em gorduras e em açúcares estimula o apetite (Thinkstock)
AFP
Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 08h33.
Pesquisadores australianos e dinamarqueses descobriram em um verme um gene responsável pela sensação de saciedade, que poderia ajudar a combater a obesidade, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira.
Este gene, batizado "ETS-5", controla os sinais que o cérebro manda aos intestinos e que provocam a sensação de saciedade, assim como a necessidade de dormir ou de fazer exercícios após ter comido, explicam os cientistas, cuja pesquisa foi publicada na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Nos humanos existe um gene similar, e esta descoberta abre caminho para o desenvolvimento de uma molécula que poderia ajudar a controlar o sobrepeso ao reduzir o apetite e ativar o desejo de fazer exercício físico, afirma Roger Pocock, professor da Universidade Monash, na Austrália.
Quando os intestinos do nematódeo Caenorhabditis elegans armazenam gordura suficiente, o cérebro recebe uma mensagem que lhe indica que deixe de se mover, desencadeando uma fase de sonolência ou, se não estiver saciado, que indica que continue se movendo, explica o pesquisador.
Este animal compartilha 80% dos genes com os humanos e aproximadamente a metade do seu patrimônio genético está implicado em doenças humanas, detalha o professor Pocock.
"Na medida na que estes vermes compartilham tantos genes com os humanos, constituem um modelo de pesquisa muito bom para compreender melhor alguns processos biológicos como o metabolismo e as doenças", explica.
Estes pesquisadores descobriram o papel do gene "ETS-5" ao analisar os neurônios no cérebro deste verme e controlar sua resposta ao receber comida. Constataram que, assim como os mamíferos, um regime alimentar rico suscita uma resposta do cérebro diferente que a desencadeada por alimentos pobres em nutrientes.
Nos mamíferos, o consumo de alimentos ricos em gorduras e em açúcares estimula o apetite, o que pode levar à obesidade.
Trata-se da primeira descoberta de um gene regulador do metabolismo, o que abre caminho para o desenvolvimento de um medicamento capaz de agir sobre o controle do intestino pelo cérebro e sobre a sensação de saciedade, segundo o professor Pocock.