Ciência

Cientistas descobrem células que controlam o envelhecimento

O estudo revelou que a velocidade de envelhecimento do corpo é controlada por um conjunto de células-tronco do hipotálamo

Envelhecimento: além das funções já conhecidas, o hipotálamo também regula o envelhecimento do organismo (iStock/Thinkstock)

Envelhecimento: além das funções já conhecidas, o hipotálamo também regula o envelhecimento do organismo (iStock/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de julho de 2017 às 15h51.

Um grupo de cientistas descobriu que a velocidade de envelhecimento do corpo é controlada por um conjunto de células-tronco do hipotálamo. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira, 25, na revista Nature.

O hipotálamo é uma região do cérebro conhecida por regular importantes processos no organismo, como o crescimento, o desenvolvimento, a reprodução e o metabolismo.

De acordo com o autor principal do estudo, Dongsheng Cai, da Escola de Medicina Albert Einstein, em Nova York (Estados Unidos), a descoberta feita em camundongos poderá levar ao desenvolvimento de novas estratégias para tratar doenças relacionadas ao envelhecimento e para aumentar o tempo de vida.

Em um artigo anterior, publicado em 2013, também na revista Nature, a mesma equipe de cientistas revelou a surpreendente descoberta de que, além das funções já conhecidas, o hipotálamo também regula o envelhecimento do organismo.

Na nova pesquisa, os cientistas identificaram as células do hipotálamo que controlam o processo de envelhecimento: uma pequena população de células-tronco neurais adultas, que também é responsável por formar novos neurônios.

"Nossa pesquisa mostra que o número das células-tronco neurais do hipotálamo é reduzido ao longo da vida do animal e esse declínio acelera o envelhecimento. Mas também descobrimos que os efeitos dessa perda não são irreversíveis. Com a reposição dessas células-tronco ou das moléculas que elas produzem, é possível desacelerar, ou até reverter vários aspectos do envelhecimento no organismo", disse Cai.

Ao investigar se as células-tronco no hipotálamo eram a chave para o envelhecimento, os cientistas estudaram primeiro o destino dessas células quando camundongos saudáveis envelheciam.

O número de células-tronco do hipotálamo começou a diminuir quando os animais chegavam à idade de 10 meses, bem antes do aparecimento dos sinais normais de envelhecimento.

"Na velhice, que chega aos dois anos de idade nos camundongos, a maior parte dessas células já havia desaparecido", disse Cai.

O próximo passo foi tentar descobrir se essa progressiva perda das células-tronco havia realmente causado o envelhecimento ou se estava apenas associada a ele.

Para isso, os cientistas observaram o que acontecia quando as células-tronco do hipotálamo eram seletivamente destruídas em camundongos de meia idade.

"Essa destruição acelerou enormemente o envelhecimento, em comparação com os camundongos com células-tronco normais. Os animais com as células-tronco destruídas também morreram antes do tempo normal", declarou Cai.

Velhice reversível. A próxima pergunta a fazer era se a reposição de células-tronco no hipotálamo seria capaz de neutralizar o envelhecimento.

Para obter a resposta, os cientistas injetaram células-tronco do hipotálamo nos cérebros de camundongos de meia idade, cujas células-tronco haviam sido destruídas e também nos cérebros de animais normais.

Nos dois grupos de animais, o tratamento retardou ou reverteu vários indicadores de envelhecimento. Os cientistas descobriram que as células-tronco do hipotálamo parecem exercer seus efeitos antienvelhecimento liberando moléculas conhecidas como microRNAs.

Os microRNAs, de acordo com Cai, não estão envolvidos na síntese de proteínas, mas têm um papel central na regulação da expressão dos genes.

Os microRNAs ficam "embalados" em pequenas partículas chamadas exossomos, que são liberadas pelas células-tronco no fluido cérebro-espinhal dos camundongos.

Os cientistas, então, extraíram das células-tronco do hipotálamo exossomos carregados com microRNA e os injetaram no fluido cérebro-espinhal dos dois grupos de camundongos de meia-idade: aqueles com células-tronco do hipotálamo destruídas e os normais.

De acordo com Cai, o tratamento desacelerou consideravelmente o envelhecimento nos dois grupos de animais. A medição do envelhecimento foi feita a partir da análise dos tecidos do organismo dos animais e por testes comportamentais que envolviam a avaliação de transformações na resistência dos músculos, coordenação, comportamento social e capacidade cognitiva.

Agora, os pesquisadores estão tentando identificar as populações específicas de microRNAs e outros fatores secretados pelas células-tronco que são responsáveis por efeitos antienvelhecimento.

Segundo eles, esse será o próximo passo para desacelerar o processo de envelhecimento e para tratar doenças ligadas à idade avançada.

Acompanhe tudo sobre:Pesquisas científicas

Mais de Ciência

Super Terra? Este planeta de 3 milhões de ano pode mudar o curso da ciência

Cigarro eletrônico pode afetar saúde vascular e níveis de oxigênio — mesmo sem nicotina

De radiação à gravidade: passar meses no espaço faz mal ao corpo humano?

Mergulhadores descobrem maior animal marinho do mundo — e não é a baleia azul