(KEITA SAWAKI/a.collectionRF/Thinkstock)
Lucas Agrela
Publicado em 6 de março de 2018 às 10h47.
Última atualização em 6 de março de 2018 às 10h50.
Se você é uma daquelas pessoas que convida a família toda para a ceia de Natal – até os primos distantes –, é melhor torcer para não estar na árvore genealógica que Yaniv Erlich acabou de criar. O cientista da computação da Universidade Columbia traçou o grau de parentesco entre 13 milhões de pessoas do mundo todo, vivas ou mortas, distribuídas por 11 gerações. E depois usou os dados para responder a uma pergunta antiga: o que influencia mais a longevidade, a genética ou os hábitos?
Essa verdadeira peripécia – 13 milhões é mais que a população do município de São Paulo – só foi possível graças à base de dados do site Geni.com, em que os usuários caçam seus antepassados e encontram parentes distantes que também estão a fim de descobrir de onde vieram. “O número de participantes por si só já é uma maluquice”, afirmou à Nature o pesquisador Atul Butte, da Universidade da Califórnia – que não estava envolvido no estudo. “Só dá para criar bases de dados desse tamanho com crowdsourcing. É realmente impressionante.” Caso você esteja se perguntando: não, não dá para saber se você está ou nessa árvore. Os nomes não foram divulgados.
A principal descoberta é que a idade é mais uma questão ambiental que genética. Não adianta fumar, encher a cara, pular a salada e esperar o DNA do seu avô dar aquele empurrãozinho para chegar às 100 primaveras. Genes “bons” para a velhice de fato dão em média cinco anos de vida a mais para os seus portadores, mas fumar subtrai dez–para não falar no que você não pode escolher, como as condições socioeconômicas do local em que nasceu. A herança genética só foi capaz de explicar diferenças de longevidade em 16% dos casos.
A conclusão não é surpreendente, mas a realidade é que esse experimento é um pouco como o lançamento do Falcon Heavy de Elon Musk: o objetivo não era, é claro, colocar um carro no espaço, e sim mostrar o potencial da tecnologia. Essa é a primeira vez que um pesquisador e sua equipe, sozinhos, coletam dados de 13 milhões de pessoas sem levantar da cadeira – e especialistas da área concordam que bancos de dados grandes e de fácil acesso como esse serão essenciais para pesquisas sobre genética no futuro.
Além disso, analisar árvores do tamanho de cidades permite colher dados muito curiosos: em 1750, boa parte das pessoas se casava com gente que morava perto–a no máximo dez quilômetros. Em 1950, a distância média entre os locais de nascimento dos membros de um casal subiu para 100 quilômetros. Parece que trem, telefone, e internet nos tornaram mais seletivos no amor.
*Este conteúdo foi originalmente publicado na Superinteressante