Ciência

Cientistas analisam batata que poderia crescer em Marte

Se conseguir que a batata cresça em um clima e ambiente idêntico ao de Marte, o objetivo é que o tubérculo siga sendo comestível

Batatas: pesquisador previu que a batata de Marte será mais salgada e seca que as variedades frequentes (Marcos Santos/USP Imagens/Agência USP)

Batatas: pesquisador previu que a batata de Marte será mais salgada e seca que as variedades frequentes (Marcos Santos/USP Imagens/Agência USP)

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EFE

Publicado em 12 de março de 2017 às 09h27.

Lima - Uma equipe de cientistas do Centro Internacional da Batata (CIP), com sede no Peru, encontrou a batata mais resistente conhecida até agora, como parte de suas pesquisas para determinar se estes tubérculos poderão ser cultivados em Marte.

O pesquisador Julio Valdivia-Silva, um dos responsáveis do experimento, afirmou à Agência Efe que o projeto "Batatas em Marte", dirigido pelo CIP com a assessoria da Nasa, conseguiu fazer crescer uma batata só alimentada com água rica em nutrientes dentro de uma urna fechada, denominada CubeSat, onde o tubérculo foi submetido a condições extremas, similares às do planeta vermelho.

O tubérculo cresceu em um solo com 30% de sal, igual ao de Marte, com uma concentração de 10% de dióxido de carbono no ambiente, a temperaturas de entre -5 e 20 graus e a uma pressão de 600 milibares, própria de uma altitude de 4.500 metros sobre o nível do mar.

"O resultado mais contundente é que isto sugere que vamos conseguir cultivar uma batata, de maneira mais controlada, em condições mais similares a Marte", explicou Valdivia-Silva, já que a atmosfera do planeta vermelho tem uma concentração de 95% de dióxido de carbono e temperaturas que chegam a -60 graus.

A segunda parte do projeto consistirá em provar os limites da batata para expô-la cada vez mais às condições de um ambiente marciano, o que permitirá estudar seus limites biológicos.

Se conseguir que a batata cresça em um clima e ambiente idêntico ao de Marte, o objetivo é que o tubérculo siga sendo comestível, embora Valdivia-Silva, pesquisador associado ao Instituto SETI, tenha previsto que será mais salgado e seco que as variedades frequentes.

A terra utilizada na pesquisa procedeu do deserto Pampas de La Joya, na região peruana de Arequipa, e em cujo solo seco e salgado o CIP já tinha conseguido cultivar batatas com a ajuda de adubos para sua nutrição e estrutura.

Os cientistas do CIP concluíram que as futuras missões a Marte que desejem semear batatas terão que preparar o solo com uma estrutura solta e nutrientes para permitir que os tubérculos obtenham ar e água suficiente para "tuberizar".

O melhorador de batatas do CIP, Walter Amorós acrescentou, em comunicado, que uma vantagem da batata é sua grande capacidade genética para adaptar-se a ambiente extremos.

"Foi uma agradável surpresa ver que as batatas que melhoramos para tolerar o estresse abiótico eram capazes de produzir tubérculos neste solo", destacou Amorós.

O especialista ressaltou que, independentemente de suas implicações para as futuras missões a Marte, o experimento já proporcionou boas notícias sobre o potencial da batata para ajudar às pessoas a sobreviver em ambientes extremos na Terra.

Amorós considerou que os resultados da pesquisa demonstram que estão funcionando os esforços do CIP para melhorar variedades de batatas com alto potencial de fortalecer a segurança alimentar em áreas afetadas pela mudança climática.

O CubeSat foi construído por engenheiros da Universidade de Engenharia e Tecnologia (UTEC), de Lima, baseado no design e assessoria do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos).

A batata objeto de pesquisa, cuja identificação se mantém em segredo, é uma das mais de 2.400 variedades conservadas no banco de germoplasma do Centro Internacional da Batata, que também guarda amostras das diferentes variedades existentes no mundo da batata-doce.

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