Ciência

China questiona se medicina tradicional é eficaz contra o novo coronavírus

A Academia Chinesa de Ciências afirmou que o "Shuanghuanglian" poderia "inibir" o coronavírus, que já causou mais de 300 mortes no país

Farmácias: chineses buscaram medicamentos tradicionais para tentar tratar o coronavírus sem saber se a eficácia era garantida (AFP/AFP)

Farmácias: chineses buscaram medicamentos tradicionais para tentar tratar o coronavírus sem saber se a eficácia era garantida (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 2 de fevereiro de 2020 às 12h26.

Desde que as autoridades científicas chinesas alegaram que um remédio tradicional era eficaz contra o novo coronavírus tornou-se muito difícil encontrar a poção medicinal à base de plantas, embora nem todos estejam convencidos de suas propriedades.

A prestigiosa Academia Chinesa de Ciências afirmou na sexta-feira que o "Shuanghuanglian" poderia "inibir" o patógeno letal, que já causou mais de 300 mortes e infectou mais de 14.000 pessoas no país. Desde então, as pessoas correram para as farmácias para comprar o produto.

Rapidamente, no entanto, as redes sociais e a imprensa questionaram a eficácia do medicamento.

O Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, alertou contra o uso do remédio tradicional sem a consulta a um médico. A televisão estatal informou que o produto poderia ter efeitos colaterais.

Ao mesmo tempo, no entanto, Pequim parece determinada a integrar a medicina tradicional na luta contra a pneumonia viral.

 

A estatal Academia de Ciências também enfatizou as possíveis virtudes de um herbáceo chamado "Fallopia japônica" que poderia atenuar os sintomas da doença.

Dezenas de especialistas em medicina tradicional estão entre os 6.000 agentes enviados enviadas como aos hospitais saturados de Wuhan, cidade onde o vírus surgiu e que está em quarentena, de fato, desde 23 de janeiro.

Tratamento eficaz?

Tudo isso reacende o debate sobre a eficácia da medicina chinesa, com 2.400 anos de antiguidade.

Marc Fréard, membro do Conselho Acadêmico Francês de Medicina Chinesa, acredita que a farmacopeia pode ajudar a reduzir a febre ou evacuar o muco, dois sintomas da pneumonia viral.

Entretanto, lembra à AFP que alguns desses remédios são de qualidade duvidosa. Também explica que a medicina chinesa não está sujeita a padrões de eficácia científica, uma vez que se baseia em um tratamento individualizado.

Durante a epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2003, que matou 774 pessoas em todo o mundo, os tratamentos tradicionais associados aos medicamentos ocidentais foram aplicados na China.

Mas um estudo da organização internacional Cochrane estabeleceu em 2012 que esta combinação de tratamentos "não mudou" nada na luta contra a epidemia.

"Fibra nacionalista"

O governo do presidente Xi Jinping faz todo o possível para promover a medicina chinesa no exterior.

Em 2015, o Prêmio Nobel de Medicina atribuído ao chinês Tu Youyou foi considerado um reconhecimento mundial da farmacopeia tradicional.

Pequim publicou em 2016 seu primeiro Livro Branco sobre medicina tradicional, que defende a construção de centros especializados em países desenvolvidos e o envio de médicos.

O próprio Xi Jinping descreveu a medicina tradicional como "tesouro da civilização chinesa" e declarou em outubro que deveria ter tanta influência quanto a medicina moderna.

A China "busca difundir a nível internacional sua mensagem cultural" e a medicina faz parte dela, observa o Dr. Fréard.

Para o escritor chinês Fang Shimin, conhecido por suas críticas à pseudociência, o apoio do governo comunista à medicina tradicional "serve para tocar a fibra nacionalista e não tem nada a ver com a ciência".

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