Ciência

China quer usar vacina contra coronavírus mesmo sem testes finalizados

Pelo menos três vacinas estão sendo testadas em humanos; para a OMS, "não há atalhos e nenhuma etapa deve ser pulada"

A corrida pela vacina: 120 pesquisas em andamento  (Javier Zayas Photography/Getty Images)

A corrida pela vacina: 120 pesquisas em andamento (Javier Zayas Photography/Getty Images)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 23 de maio de 2020 às 14h27.

A China está planejando dar a alguns grupos uma vacina contra a covid-19 até o fim deste ano, mesmo que os testes não estejam concluídos até lá, de acordo com Gao Fu, chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, segundo o jornal South China Morning Post.

Gao Fu disse que o Programa Nacional de Imunização está elaborando diretrizes para determinar quem seria elegível para receber a vacina. "O programa está prestando muita atenção e estudando quais grupos da população podem tomar as doses, quando tomá-las e que situações pode constituir uso emergencial de vacinas", disse Gao, durante a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, em Pequim.

“Acredito que decidiremos com base em situações específicas, sem seguir o protocolo usual, caso contrário o tempo será perdido. Também não podemos decidir com base em nosso conhecimento de coronavírus, porque se trata de um vírus único”, disse Gao.

O vírus que causa a covid-19 é o sétimo coronavírus humano conhecido. Os outros seis podem causar infecções fatais, como síndrome respiratória aguda grave, ou doenças muito mais leves, como o resfriado comum. A vacinação é vista como a única solução médica viável que pode acabar com a pandemia da covid-19, que já infectou mais de 5,3 milhões de pessoas e matou mais de 340.000 em todo o mundo.

Embora existam mais de 120 pesquisas em andamento, uma vacina desenvolvida em conjunto pela empresa CanSino Biologics e pela Academia de Ciências Médicas Militares foi a primeira na China a entrar em um teste humano de segunda fase, controlado por placebo.

As autoridades canadenses também deram permissão para que um novo teste da vacina seja realizado lá. Três outras vacinas desenvolvidas na China também estão sendo testadas em seres humanos.

Maria Van Kerkhove, chefe de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde, disse na semana passada que não haveria atalhos no desenvolvimento de vacinas e que nenhuma etapa deveria ser pulada para garantir que todas as vacinas atendessem a todos os requisitos de segurança e eficácia.

Gao Fu, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China: diretrizes para escolher que grupos podem tomar a vacina (Roman Balandin TASS)

Gao reconheceu que as vacinas testadas devem ser seguras e eficazes. Segundo ele, um desenvolvimento padrão pode levar de 12 a 18 meses, mas as vacinas rápidas podem ser usadas em emergências ou em grupos com necessidades específicas. “As vacinas não são para o público em geral, mas para grupos especiais”, afirmou Gao.

Zhu Jingjin, da China National Biotec Group, cujas subsidiárias em Wuhan e Pequim iniciaram testes em humanos com duas vacinas, disse à emissora estatal CCTV no mês passado que sua empresa tem capacidade de produção para atender à demanda de "grupos populacionais especiais", como trabalhadores da saúde, funcionários diplomáticos e estudantes que morem no exterior.

Gao, um imunologista e virologista com doutorado na Universidade Oxford e pós-doutorado na Universidade Harvard, esteve pessoalmente envolvido na busca pelas espécies intermediárias que transmitiram o coronavírus causador da doença - que se acredita ter originado em morcegos - para humanos.

"Cientistas, pesquisadores e profissionais de saúde pública trabalharam duro para isso, mas, no estágio atual, não podemos dizer especificamente qual animal é o hospedeiro", disse Gao.

Países como os Estados Unidos e a Austrália criticaram a China pela demora em tornar pública a propagação da doença em Wuhan e acusam o país de encobrir informações. A China, no entanto, rejeitou as críticas dizendo que agiu rapidamente para compartilhar a sequência do genoma do coronavírus e trabalhou em estreita colaboração com a OMS no combate à pandemia.

 

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