Imagem de arquivo: A revista "Nature" se uniu ao debate e sustentou que o anúncio provocou "indignação" da comunidade científica internacional (VCG/VCG/Getty Images)
EFE
Publicado em 29 de novembro de 2018 às 14h47.
Pequim - A China anunciou nesta quarta-feira que "punirá" firmemente os responsáveis por um caso que "viola leis e regulações" do país, assim como "princípios éticos", em referência aos embriões humanos supostamente modificados geneticamente pelo cientista chinês He Jiankui.
O diretor-adjunto da Comissão Nacional de Saúde da China, Zeng Yixin, afirmou em entrevista à "Televisão Central da China" ("CCTV") que os departamentos e os governos locais "estão investigando o caso e que punirão firmemente os infratores".
"Com o rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia, a pesquisa e a aplicação científica devem ser mais responsáveis e devem acompanhar normas éticas e técnicas", disse Zeng.
O vice-ministro de Ciência e Tecnologia chinês, Xu Nanping, disse à mesma emissora que sua pasta combaterá o experimento e anunciou que todas as atividades de pesquisa relacionadas devem ser suspensas.
"É contra a lei e contra a ética. É inaceitável", afirmou.
Huai Jinpeng, secretário do partido da Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia, também disse hoje à "CCTV" que se opõe ao experimento e disse que o órgão dará "todo apoio" às investigações das autoridades.
O pesquisador Wang Haoyi, da Academia de Ciências da China, condenou o experimento em entrevista à emissora estatal e afirmou que o caso alterou "gravemente" as bases da pesquisa científica e prejudicou a reputação da China nesta área.
"Ele não nos representa. Nem o chamaria de cientista. É uma pessoa impiedosa que sabe muito pouco de ciência e que fez um experimento muito irresponsável em um ser humano", disse Wang.
He Jiankui afirmou na última segunda-feira ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo sem qualquer tipo de apoio institucional. Ontem, ele justificou seu experimento, apesar das dúvidas e das controvérsias que gerou entre a população e a comunidade científica dentro e fora da China.
Em discurso no Congresso Internacional de Edição de Genomas Humanos, na Universidade de Hong Kong, ele disse estar "orgulhoso" pelo uso da técnica de edição genética CRISPR/Cas9 em duas gêmeas e destacou que o estudo não tinha o objetivo de eliminar doenças genéticas, mas de "dar às meninas a habilidade natural" para resistir a uma possível futura infecção ao vírus HIV.
Na segunda-feira, a direção da Universidade de Shenzhen, onde He Jiankui trabalhou, anunciou que vai investigar o cientista e que está "profundamente comovida com o caso", que qualificou como "grave violação da ética e dos padrões acadêmicos".
Mais de 120 acadêmicos da comunidade científica chinesa alertaram no mesmo dia em declaração emitida no Sina Weibo, o equivalente ao Twitter na China, que "qualquer tentativa" de fazer alterações em embriões humano através de modificações genéticas é "uma loucura" e que dar à luz a um bebê assim representa "um alto risco".
Em nível global, a revista "Nature" se uniu ao debate e sustentou que o anúncio provocou "indignação" da comunidade científica internacional e que, se for verdade, representará "um salto significativo - e controverso - no uso da edição do genoma humano".