. (KAI PFAFFENBACH/Reuters)
AFP
Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 14h21.
A China lançou uma nave de exploração que tem previsto pousar no lado oculto da Lua, algo inédito no mundo, com o objetivo de reforçar as ambições espaciais de Pequim.
O veículo, batizado Chang'e-4 - em homenagem à deusa da lua na mitologia chinesa -, partiu em um foguete Longa Marcha 3B do centro de lançamentos de Xichang (sudoeste da China) pouco antes do amanhecer de sábado (sexta-feira à noite na hora universal), segundo a agência oficial Xinhua.
A nave chinesa deve pousar na Lua perto do Ano Novo, com o objetivo de percorrer esta parte ainda inexplorada de nosso satélite e realizar pesquisas científicas.
Diferentemente do que ocorreu com a face visível a partir da Terra, até hoje nenhuma sonda nem nenhum módulo de exploração chegou à superfície que está do outro lado.
Este lado é montanhoso e acidentado, repleto de crateras, enquanto a face mais visível conta com várias superfícies planas para pousar.
Em 1959 os soviéticos tiraram as primeiras fotos do lado oculto da Lua."Nos últimos 10 ou 20 anos, a China percorreu sistematicamente os passos que os Estados Unidos e a União Soviética deram na exploração espacial nos anos 1960 e 1970", explicou Jonathan McDowell, astrônomo no centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian. Esta é "uma das primeiras vezes que os chineses empreendem algo que ninguém fez ainda".
A China se prepara há anos para esta operação particularmente difícil do ponto de vista tecnológico.
Um dos maiores desafios é conseguir se comunicar com o robô lunar. Como a face oculta da Lua é orientada no sentido oposto à Terra, não há "linha de visão" direta para transmitir sinais.
Como solução, a China lançou em maio passado um satélite que batizou de Queqiao, posicionado em órbita lunar para transmitir ordens e dados trocados entre a Terra e o módulo.
Durante a noite lunar, que dura 14 dias terrestres, as temperaturas baixam até -173 graus Celsius, e durante o dia lunar, também equivalente a 14 dias terrestres, podem atingir 127 graus Celsius.
Um desafio ainda maior é que o Chang'e-4 foi enviado a uma região do polo sul da Lua, a bacia Aitken, cujo terreno é particularmente complexo e escarpado, segundo os meios estatais chineses.
A nave deverá realizar estudos sobre recursos minerais, cultivo de tomates e outras plantas, entre outros.
Esta é a segunda vez que a China envia um veículo para explorar a superfície lunar, depois do Yutu em 2013, que permaneceu ativo durante 31 meses.
Pequim tem previsto lançar no ano que vem um Chang'e-5 para coletar amostras e trazê-las à Terra.
A China investe bilhões em seu programa espacial, comandado pelo Exército. Colocou satélites em órbita para desenvolvimentos internos (observação da Terra, telecomunicações ou o sistema de geolocalização Beidou) ou para outros países.
Também espera enviar um robô a Marte e humanos à Lua.
Em novembro, a China apresentou uma réplica de sua primeira grande estação espacial Tiangong, que planeja lançar a partir de 2022 e suceder a Estação Espacial Internacional (ISS).
A estação chinesa se tornaria então a única no espaço após a retirada da ISS - uma associação entre Estados Unidos, Rússia, Europa, Japão e Canadá -, programada para 2024. Será, no entanto, muito menor.