Ciência

Células-tronco de tumores podem ajudar no combate ao câncer

Estudos indicam que tumores sólidos e cânceres hematológicos têm, entre suas células, um tipo conhecido como células-tronco tumorais

Células-tronco: células-tronco tumorais (ou cancerígenas) são células que podem se dividir e originar várias células que constituem tumores (Getty Images)

Células-tronco: células-tronco tumorais (ou cancerígenas) são células que podem se dividir e originar várias células que constituem tumores (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2016 às 17h31.

Última atualização em 29 de novembro de 2016 às 18h41.

Estudos indicam que tumores sólidos e cânceres hematológicos (como leucemia, mieloma e linfoma) têm, entre suas células, um tipo conhecido como células-tronco tumorais.

Essas teriam características semelhantes às das células-tronco normais, especialmente a capacidade de originar qualquer um dos tipos de células encontradas nas diferentes formas de câncer.

Células-tronco tumorais (ou cancerígenas) são células que podem se dividir e originar várias células que constituem tumores. Por conta disso, representam um importante alvo de pesquisas em diversos países.

Entretanto, há cientistas que discordam de sua existência e da ideia de que células-tronco normais possam originar células-tronco tumorais. Outros, mais cautelosos, preferem dizer que tais células são ainda uma hipótese.

As células cancerígenas não são sempre iguais. Em um tumor maligno pode haver uma variedade de tipos de células e a ideia das células-tronco tumorais é que, entre as células do câncer, algumas atuem como células-tronco que se reproduzem e sustentam o câncer, de forma semelhante à que células-tronco normais se derivam em órgãos e tecidos.

Um grupo de pesquisadores da Universidad de la República (UDELAR), no Uruguai, não tem dúvidas da existência e destaca a importância de se realizar estudos com essas células.

“As células-tronco tumorais têm grande interesse clínico por estarem envolvidas na metástase e na resistência às drogas, prejudicando tratamentos como a quimioterapia”, disse Maria Ana Duhagon, professora no Laboratório de Interações Moleculares da Faculdade de Medicina da UDELAR.

Diversas terapias contra o câncer têm como base a capacidade de reduzir o tamanho de tumores, mas se elas não destroem as células-tronco tumorais, o tumor poderá crescer novamente.

Na FAPESP Week Montevideo, realizada nos dias 17 e 18 de novembro no Uruguai, Duhagon falou sobre pesquisas que seu grupo realiza com microRNAs envolvidos na diferenciação de células-tronco em câncer de próstata, a segunda causa mais frequente de morte entre homens em países como o Uruguai e Brasil.

MicroRNAs são reguladores fundamentais da expressão gênica em plantas e animais. São ácidos ribonucleicos (RNA) não codificantes, ou seja, moléculas transcritas a partir do genoma e não traduzidas em polipeptídeos. Geralmente permanecem no núcleo da célula, atuando na regulação da expressão gênica.

“Temos desenvolvido um método para isolamento, manutenção e diferenciação de células-tronco tumorais que permite realizar análises de sensibilidade a fármacos convencionais e naturais e a identificar vias moduladoras da diferenciação. O método também tem possibilitado determinar a capacidade de metástase e caracterizar microRNAs modulados durante a diferenciação”, disse.

Segundo Duhagon, sabe-se que os microRNAs se encontram extensivamente desregulados em cânceres, o que permite o uso desses ácidos para identificar ou acompanhar o desenvolvimento da doença.

“Os microRNAs participam da manutenção do estado de diferenciação das células tumorais, sendo esta a linha de pesquisa fundamental de nosso grupo”, disse.

A pesquisadora e seu grupo identificaram microRNAs com potencial para o desenvolvimento de terapias contra o câncer de próstata. Duhagon contou que a detecção de possíveis locais de interação de um deles (hsa-miR-886-3p) com o RNA mensageiro na porção não traduzida do RNA chamada de 3’ UTRs (do inglês three prime untranslated region) permitiu a seleção de diversos genes candidatos à inibição de tumores.

“Os RNA mensageiros desses genes diminuíram com a transferência temporária de hsa-miR-886-3p, inibindo a proliferação”, disse.

“O hsa-miR-886-3p provém de um precursor de RNA não convencional chamado vtRNA2-1, localizado em um local de relevância emergente, mas de pouca compreensão. A expressão do hsa-miR-886-3p e do vtRNA2-1, que verificamos em amostras obtidas no Uruguai e no CancerGenomeAtlas, é regulada fortemente pela metilação [processo envolvido na regulação de expressão gênica] de seu promotor, o que o torna um possível gene supressor de tumor em câncer de próstata”, disse.

Análises feitas pelos pesquisadores da UDELAR permitiram identificar o papel de supressor de tumor na etapa G2/M, afetando a proliferação tanto em testes in vitro como em modelos animais – G2/M, ou checagem da entrada em mitose, é uma etapa importante no ciclo celular que verifica se não há danos no DNA.

“Por meio do uso de microarrays de expressão gênica, identificamos 278 transcrições reguladas diferentemente pelo vtRNA2-1, que representam processos celulares como migração, adesão e ciclo celular”, disse. Microarray (“microarranjo”) é uma ferramenta empregada para analisar a expressão de centenas ou milhares de genes em uma amostra.

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