Ciência

Casos de 'flurona' já são comuns no Brasil, afirma especialista

No entanto, formação de um novo vírus mesclando características de ambos é rara e nunca foi citada em estudos científicos

Covid e gripe: os casos de coinfecção costumam aparecer quando o paciente que apresenta sintomas é submetido a um teste do tipo painel viral (Reprodução/Getty Images)

Covid e gripe: os casos de coinfecção costumam aparecer quando o paciente que apresenta sintomas é submetido a um teste do tipo painel viral (Reprodução/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 3 de janeiro de 2022 às 14h22.

Última atualização em 4 de janeiro de 2022 às 11h06.

Casos de "flurona", coinfecção simultânea causada pelo coronavírus e a influenza, são comuns em vários países do mundo, inclusive no Brasil. No entanto, há poucos dados epidemiológicos sobre a condição. Isso ocorre porque, diante dos sintomas bem parecidos de covid-19 e gripe, investiga-se apenas uma das condições — na pandemia, normalmente a causada pelo Sars-CoV-2 — impossibilitando o diagnóstico duplo, já que quando o resultado dá positivo para covid-19, não se faz testes para influenza. É o que explica Salmo Raskin, médico geneticista e diretor do laboratório Genetika, de Curitiba.

Os casos de coinfecção costumam aparecer quando o paciente que apresenta sintomas é submetido a um teste do tipo painel viral — no qual uma amostra é analisada para vários tipos de vírus ao mesmo tempo. Esses testes normalmente são feitos em laboratórios privados. No cenário de pandemia de covid-19, os laboratórios públicos estão priorizando a realização de testes para identificar o coronavírus.

A falta de estudos científicos sobre o impacto da coinfecção, não possibilita ainda dizer se um paciente acometido por ambos os vírus pode apresentar um quadro de saúde pior.

"Sabemos que os dois vírus podem infectar, inclusive, a mesma célula. Mas como ainda não temos estudos comparando coinfectados com aqueles que foram infectados com apenas um dos dois vírus, não podemos dizer se o prognóstico é melhor ou pior", afirma Raskin.

O especialista acredita que mais para a frente surgirão estudos que respondam aos questionamentos sobre as consequências da coinfecção. Principalmente agora em que os casos de influenza voltaram a aumentar, principalmente no Brasil, após o relaxamento das restrições impostas por conta do coronavírus. Raskin destaca que o Sars-CoV-2 é um vírus relativamente novo — foi descoberto há dois anos — e o influenza se manteve controlado entre 2020 e grande parte de 2021, já que as estratégias para combatê-lo são semelhantes as do coronavírus (como uso de máscaras, distancimento social, melhor ventilação do ambiente e higienização frequente das mãos).

"Os poucos casos de influenza e o surgimento recente do novo coronavírus ainda não possibilitaram grandes estudos sobre a coinfecção dos dois", esclarece o médico.

Possibilidade de recombinação

O geneticista afirma que a possibilidade de recombinação — a formação de um novo vírus combinando material genético de ambos — entre o coronavírus e o influenza é extremamente rara e ainda não foi notificada na literatura médica.

"A recombinação não é incomum nos coronavírus [outros, antes do que causa a covid-19] nem nos vírus da influenza. No entanto, é muito raro que eles se juntem [façam uma recombinação de um com o outro]. Numa rápida pesquisa, não encontrei nenhum relato no mundo sobre isso", diz Raskin.

O médico orienta que as pessoas continuem praticando medidas que ajudam a mitigar a transmissão de ambas as doenças, como o uso de máscaras, o distanciamento social, a higienização frequente das mãos e a preferência por ambientes ventilados. Raskin reforça a importância de se vacinar contra os dois vírus — que possuem imunizantes próprios.

Quais são os maiores desafios da ciência? Descubra ao assinar a EXAME: menos de R$ 11/mês.

 

 

Acompanhe tudo sobre:GripesCoronavírusPandemia

Mais de Ciência

Por que Napoleão foi derrotado na Rússia? Estudo tem novas respostas

IA desenvolve relógio biológico que mede envelhecimento com precisão

Índia investe em 'semeadura de nuvens' para melhorar a qualidade do ar

Meteoro 'bola de fogo' surpreende ao iluminar o céu do Rio Grande do Sul